MARCELO LAGUNA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Primeira brasileira campeã mundial no boxe feminino, Rose Volante passará pelo seu maior teste neste sábado (21), quando defenderá o cinturão da categoria leve (até 61 kg), versão OMB (Organização Mundial de Boxe), na Arena Santos, no litoral de São Paulo, a partir das 23h.

A brasileira terá pela frente a panamenha Lourdes Borbua, na última luta das cinco que irão compor a programação. O problema é que, na prática, a luta deste sábado valerá somente para Rose.

Na pesagem oficial, realizada em Santos nesta sexta-feira (20), Borboua estava acima do limite permitido (61,2 kg) e pediu um tempo para baixar de peso. Após duas horas, como manda o regulamento, a panamenha passou por nova medição, quando marcou 64,5 kg.

“A luta será realizada normalmente, dentro do que manda as regras. Assim, se Rose Volante vencer o combate, ela mantém o cinturão. Caso Lourdes Borbua ganhe, o título ficará vago”, explicou à reportagem Jorge Molina, presidente da Confederação Latina de Boxe e vice-presidente da OMB. Os organizadores não confirmaram se a panamenha sofrerá algum tipo de redução em sua bolsa por não ter alcançado o peso.

Embora vá encarar uma adversária invicta -Borboua venceu as oito lutas que disputou até hoje-, Rose esperar seguir uma tradição no boxe brasileiro. Quase sempre um lutador do país vence uma defesa de título mundial quando o combate ocorre em casa.

Na história, seis lutas foram realizadas em território brasileiro valendo por disputa mundial de cinturão ou defesa de título, com cinco triunfos dos brasileiros. A última defesa de cinturão ocorreu há 17 anos, quando o baiano Acelino Popó Freitas manteve o título dos superpenas (OMB) ao derrotar Orlando Soto (Panamá), em Brasília, por nocaute.

Rose Volante torce para que o fator casa seja uma arma a mais para conquistar sua primeira vitória como campeã do mundo, especialmente ao lado da torcida.

“Tenho recebido apoio de muitas pessoas aqui em Santos, fizeram um trabalho muito bom de divulgação da luta. Com esta energia e toda preparação que eu fiz, estou confiante em manter este título para o Brasil”, disse a brasileira, de 35 anos.

Contar com o incentivo dos torcedores também é visto pelo treinador da brasileira, Felipe Moledas, como um combustível extra para sua pupila. “Sentimos isso na Argentina, na luta em que a Rose foi campeã. A menina [Brenda Carabajal] tinha o apoio de cinco mil pessoas no ginásio. Ela sofreu duas quedas que se fosse em outro lugar, não conseguiria levantar. Será uma arma importante termos a torcida ao favor”, disse o treinador.

A estratégia de Moledas para este sábado não se resume apenas ao motivacional. Ele e Rose admitem ter poucas informações a respeito do estilo de Borbua, cujo apelido é “La Felina”. Com 29 anos e 1,70 m, a panamenha não foi derrotada como profissional, tendo vencido três das oito lutas por nocaute.

“Encontramos poucos vídeos dela na internet, mas com o que encontramos deu para ver que ela tem boa técnica, se movimenta bem e usa muito os contragolpes. Mas a Rose domina bem o centro do ringue e deve conseguir abafá-la”, disse Moledas.

A brasileira deverá manter seu estilo agressivo, que a levou a ganhar seis de suas 12 lutas por nocaute. “Estou preparada para encarar os dez rounds. Será um combate muito difícil”, disse Rose. 

Unificação está nos planos Uma possível vitória sobre a panamenha Lourdes Borbiua abre caminho para sonhos ainda mais ousados na carreira de Rose Volante.

O técnico Felipe Moledas planeja uma outra defesa de título no Brasil este ano e então vislumbra a tentativa de unificação de cinturões em 2019.

As opções seriam a belga Delfine Person, campeã pelo CMB (Conselho Mundial de Boxe) e a irlandesa Katie Taylor, ouro na Olimpíada de Londres-2012 e dona dos títulos da AMB (Associação Mundial de Boxe) e FIB (Federação Internacional de Boxe).

“Estamos amadurecendo a ideia, mas depende de uma série de fatores comerciais, acerto de empresários etc. Quem sabe com a TV transmitindo esta luta, possamos conseguir mais patrocinadores e viabilizar uma unificação”, disse Moledas.

Para Rose, que em entrevista à Folha em março, pedia maior reconhecimento pela conquista do título mundial, o importante é dar um passo de cada vez. “Tenho que me concentrar primeiro nesta luta. O importante é permanecer com o cinturão. Unificação a gente pensa depois”, explicou a brasileira.