Franklin de Freitas – Ari e seu atelier: 19 anos de polícia e uma vida na costura

Investigador de primeira classe da Polícia Civil e, nas horas vagas, costureiro. Esse é Arielson Nery do Prado, o Ari, um jandaiense de 53 anos que há 19 atua como policial. A arte da costura, o ofício de alfaiate, porém, vem desde muito antes (está no sangue, praticamente), quando Ari era apenas uma criança e vivia com a família em Jandaia do Sul, no norte do Paraná.
Naquela época (meados dos anos 1970), conta o investigador, era comum os pais ajudarem os filhos em seus trabalhos. E como o pai de Ari era alfaiate, logo ele foi apresentado ao mundo da costura. “Comecei ajudando meu pai, era de costume naquela época, e assim fui entrando no meio da confecção. Com 12 anos comecei a fazer os meus próprios trabalhos e já tinha uma clientela”, recorda.
Em 1995, ele deixou o norte paranaense e se mudou para a Curitiba. Era um momento difícil para o país, de recessão, e os municípios interioranos eram os mais castigados pela crise econômica. Na Capital, reencontrou um conhecido de infância, Carlos Roberto Massa (mais conhecido como Ratinho), e passou a confeccionar as roupas que ele utilizava para apresentar o programa Cadeia, na CNT.
“Ele sempre me chamava no palco e me apresentava como alfaiate dele. A partir daí veio um boom, cheguei a produzir centenas de peças por mês”, conta Ari.
A vontade de ser policial, porém, sempre existiu, até por inspiração no irmão, que é delegado. Em 1997, então, já saturado da rotina na costura, que o obrigava a ficar longe da família nos períodos de festas, resolveu mudar de área. Prestou concurso, foi aprovado e em 2000 finalmente acabou sendo chamado.
De início, a vida de costureiro havia ficado no passado. “Cheguei a largar (a costura), estava sobrecarregado e não aguentava mais. Mas depois fui sentindo falta e fui voltando gradativamente, para famílias e clientes fiéis.”
Hoje, dedica boa parte do tempo livre ao ofício de alfaiate. Como o serviço policial exige dedicação exclusiva, ele usa o que sobra de tempo para confeccionar, geralmente acompanhado do filho, Arthur, de cinco anos. “Trabalho sempre uma média de 5 horas no período noturno e 8 horas nos finais de semana (com a costura). O tempo livre é trabalhando e meu filho está sempre acompanhando.”

Roupa de princesa e de herói: especialista em trajes infantis
Quando voltou a atuar como costureiro, porém, Ari optou por seguir um caminho diferente daquele que havia traçado até então no mundo da costura e resolveu entrar no mercado infantil, produzindo fantasias e roupas infantis. Hoje, produz uma média de 40 fantasias por mês, transformando o sonho de crianças em realidades.
“O lado estressante da polícia eu descarregava na costura. E aí entrei no mercado mais infantil, de fantasias, roupas infantis. É gostoso pegar o sonho de uma criança e transformar em realidade”, conta ele, explicando ainda que datas como Carnaval, Páscoa e Halloween são as que costumam trazer maior demanda de serviços.
Hoje, quem cuida da agenda de Ari é sua esposa, Fernanda Sanches Nery Prado. “O serviço policial tem de ser dedicação exclusiva. O que sobra de tempo que uso para confeccionar, por isso não sobrecarregamos de serviço, temos um limite para atender”, explica. Os interessados devem entrar em contato pelo telefone, através do número (41) 98842-5005.

Clientes não acreditam. E os colegas policiais, também
Durante a conversa com clientes, relata Ari, é inevitável que ele não acabe contando que também é policial. “Tenho de explicar dos meus horários e aí acabo comentando que sou policial. Há até quem fique receoso: ‘será que um policial vai conseguir fazer um vestido de noiva, uma roupa de princesa para minha filha?’ Quando veem o resultado, se surpreendem”, conta o policial e costureiro.
Para além do receio inicial, há também as reações curiosas. Segundo Ari, quem o conhece como policial diz que ele não tem cara de costureiro. Já quem o conhece como costureiro afirma que ele não tem cara de policial.
O caso de Gilson Staneh e Luciana Rodrigues, pais de Emanuelle, ilustra bem a situação. Os dois são clientes fiéis de Ari, que está fazendo pela quarta vez um trabalho especial para a família, preparando uma roupa de princesa para a pequena. A descoberta de que o costureiro era também policial, porém, só veio quando eles viram Ari chegando em casa com uma viatura.
“Nem sonhávamos que ele era policial. Mas fomos pegando amizade e um dia ele estava com a viatura. Foi aí que descobrimos”, conta Gilson. “A gente nem acreditou de início. Policial e costureiro… Não é algo muito comum, né?”, complementa Luciana.