Divulgação – Patinetes elétricos de aplicativos: já são 600 equipamentos em Curitiba

Pelo menos três novas empresas de compartilhamento de ciclos — que inclui bicicletas convencionais e elétricas, e patinetes elétricos — devem começar a operar em Curitiba nos próximos meses. Com isso, cinco startups (empresas de inovação emergente), que locam os modais via aplicativos de celular, já oficializaram serviços ou intenção de desembarcar na Capital. A concorrência já era prevista pela Yellow, primeira a instalar projeto piloto com aluguel de bicicletas e patinetes elétricos em área limitada. A pioneira até esconde números para não expor à concorrência, que promete ser cada vez mais acirrada.

A estadunidense Lime, que começou a operar em São Paulo em janeiro, está para chegar em Curitiba com o peso de um aporte de US$ 335 milhões, tendo como principal investidor a Uber — gigante dos aplicativos de carona compartilhada. A Uber já tem seu próprio serviço, a Jump, que também deve chegar à capital paranaense em breve, assim com a brasileira Scoo. As últimas duas ainda sem previsão anunciada.

Logo depois da implantação da Yellow, Curitiba recebeu a mexicana Grin, que entrou no país através de uma parceria com a empresa de entregas Rappi. A Grin e a Yellow se fundiram em fevereiro deste ano, em uma transação ainda sem dados financeiros divulgados. Com a junção, a área de atuação será ampliada e compatibilizada. Ao todo, as duas empresas agora somam 300 bicicletas convencionais e 600 patinetes em Curitiba. A Grin anunciou em fevereiro que neste mês chegaria a mil patinetes na cidade.

“A área de patinetes, que antes pegava basicamente o Centro Cívico, a gente conseguiu expandir para uma área que agora vai do Alto da XV até o Batel. Estamos terminando de fazer o processo de integração para deixar as áreas de atuação compatíveis”, adianta o gerente de relações públicas da Yellow, Marcel Bely.

O preço praticado é de R$ 3 para os três primeiros minutos de uso e R$ 0,50 a cada minuto extra. O pagamento é feito pelo cartão de crédito cadastrado no app. Em primeiro momento, o serviço “virou moda”, atraiu curiosos em atividades de lazer. O uso como transporte regular é uma das metas, não só da Yellow, que deve, inclusive fazer ajustes nos preços para promover ao usuário funcional. “A gente já conseguiu diversificar para pequenas distâncias no meio da tarde e meio da manhã, que a gente classifica para pequenas reuniões, no conceito de primeira e última milha. As pessoas estão percorrendo caminhos maiores, principalmente com os patinetes que tiveram a área expandida. A gente está fazendo algumas pesquisas e vamos rodar no aplicativo para entender um pouco mais do perfil do usuário”, anuncia.

Vandalismo ainda é um grande desafio

O sucesso aparente não esconde os riscos enfrentados pelo serviço, alguns previstos, como depredação e vandalismo. Ambas as empresas instaladas, ou em vias de instalação, operam apenas com aplicativos, ou seja, sem estações ou “docas” como as que estão para funcionar em Belo Horizonte. A BHTrans, autarquia de transporte da cidade mineira, lançou editais para concorrência de empresas interessadas em operar as estações similares às que são utilizadas em cidades como Nova York, Paris e Buenos Aires. Esse sistema inibiria o vandalismo, já que os ciclos alugados são estacionados e travados nas estações fixas pela cidade. A retirada é feita por meio de cartão de crédito na própria estação.

Em Curitiba, chamou atenção, logo nos primeiros dias de operação do sistema da Yellow, o número de equipamentos vandalizados. Em um dos casos, de fevereiro, três bicicletas foram arremessadas no mesmo ponto de um rio no Centro Cívico. Em outro, vídeo circulou neste mês mostrando adolescentes destruindo uma bicicleta após terem frustrada uma tentativa de remover peças da bicicleta. Logo na primeira semana de operação da Yellow, em 22 de janeiro, a Guarda Municipal atendeu a quatro ocorrências em que bicicletas foram furtadas ou levadas para áreas fora da delimitação ofertada no aplicativo. As bicicletas acabaram recuperadas, mas parcial ou totalmente destruídas. A empresa não revela balanço atual de depredação. Há também a possibilidade de acidentes, em que os eventuais prejuízos são arcados exclusivamente pela empresa.

“A empresa trabalha com os ‘guardiões yellow’ que monitoram os equipamentos, fazem pequenos reparou e levaM à oficina. A gente tem um galpão em Curitiba. Todos os nossos equipamentos possuem sistemas de segurança online (com GPS e travas, por exemplo). Dentro do aplicativo existe um espaço para denúncias e rapidamente a gente consegue ir atrás dos equipamentos furtados ou vandalizados”, explica Bely.

Ainda em janeiro, a Yellow informou ao Bem Paraná por meio de nota que havia intenção de colocar em funcionamento o sistema de bicicletas elétricas em Curitiba em março, mas agora a data é incerta.

“A gente lançou as bicicletas elétricas em São Paulo (no dia 11 de março). Estamos testando os equipamentos e a demanda para saber como vai funcionar. Existe uma expectava de expansão para Curitiba, acredito que depois de São Paulo e Rio de Janeiro”, afirma o gerente de relações públicas da empresa.

O vandalismo não é exclusividade de Curitiba, ou de cidades como São Paulo e Belo Horizonte, onde o serviço já dá sinais de maturação. Em fevereiro do ano passado, a empresa Gobbe.bike que operava um dos sistemas de bicicletas compartilhadas sem estações (dockless) de Paris decidiu encerrar suas atividades na capital francesa e em toda a Europa após apenas quatro meses de atuação. Lançado em outubro de 2017, o sistema sem estações, com um controle apenas via aplicativo, entrou em colapso após “a destruição em massa” de sua frota de bicicletas.

A decisão de encerrar as atividades foi “decepcionante e extremamente frustrante”, escreveu a empresa de Hong Kong em nota em que anunciou o fim das operações. Em quatro meses, 60% da nossa frota foi destruída ou roubada, “tornando o projeto europeu inviável”, segundo a empresa.

Os sistemas dockless (sem docas) permitem aos usuários alugar bicicletas usando um aplicativo, geralmente digitando o código da bicicleta para desbloqueá-la. No final da viagem, as bicicletas podem ser estacionadas em qualquer lugar.

Sistemas de compartilhamento de bicicletas mais estabelecidos, como o Velib de Paris, Citi Bike em Nova York, ou os sistemas brasileiros, exigem que as bicicletas sejam devolvidas às estações. Em Nova York “dá certo” porque há estações em praticamente toda cidade.

Regras para uso de patinetes e bicicletas elétricas não são claras

Desde o início da operação do sistema de compartilhamento de bicicletas e patinetes, em janeiro, a Superintendência de Trânsito (Setran) ainda não emitiu nenhuma autuação para usuários ou empresas. Isso porque as regras não estão definidas. Na prática, a prefeitura ainda não sabe dizer o que pode, onde podem circular ou estacionar os modais, em especial o patinete.

“Quando se fala de bicicleta é mais fácil, mesmo a bicicleta elétrica, que depende da potência que ela vai vir. Anda em ciclofaixa ou ciclovia, na rua pelo lado direito, no sentido dos carros. Para estacionar, temos orientado que não se estacione em vagas de Estacionamento Regulamentado (Estar), que deixe em paraciclo e quando deixar na calçada, que não atrapalhe a circulação”, afirma a superintendente da Setran, Rosangela Maria Battistella.

Para o patinete, a única orientação por enquanto é no “bom senso”. O Setran aguarda a evolução das experiências em diversas cidades do País e a retomada em abril das reuniões mensais das câmaras temáticas do Contran, em que participam representantes de diversas cidades, para criação de um padrão nacional de regulamentação.

“O patinete é mais difícil porque não há regulamentação. Quando não é elétrico (o patinete) se equipara ao pedestre e quando é elétrico, se equipara à bicicleta. Então, a gente aguarda a regulamentação da Contran (Conselho Nacional de Trânsito). Enquanto a gente não tem, a gente pede o bom senso do usuário. Em calçada, quando há grande movimentação de pedestre, é não circular ou dar preferência. Na Lei da Mobilidade, publicada em 2012, a regra é sempre priorizar o mais fraco. Primeiro o pedestre, depois os ciclista e assim por diante”, explica.

Diferentemente das bicicletas, que pela lei não podem circular pelas calçadas, os patinetes podem, porque não há regra que impeça. “Eu diria que uma situação harmônica é usar o patinete como se fosse um pedestre. É procurar, como pode controlar a velocidade, harmonizar com a velocidade do pedestre”, orienta a superintendente.

Quanto à instalação de estações licitadas, como ocorre em BH, o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (Ippuc) informou que não há projeto nesse sentido. A assessoria informou que aguarda proposta de empresas eventualmente interessadas antes de inciar estudos nesse sentido, já que todas as operadoras até agora trabalham no sistema dockless, via aplicativos e sem estações. Em nome da liberdade de sigilo de informações privadas e da estratégia de competitividade das empresas, a Agência Curitiba de Desenvolvimento, que recebe as propostas das startups, não confirma quais empresas fizeram contato para instalação de serviço similar em Curitiba.