Dois assuntos completamente diferentes chamaram a atenção no noticiário e nas redes sociais, na semana que passou. Dois exemplos de como as conclusões precipitadas podem levar a opinião pública a desenvolver visões deturpadas a respeito de assuntos das mais diversas áreas.

Um dos assuntos, claro, é a política, área campeã de notícias fake, tendenciosas e com interpretações distorcidas, que pendem para lá ou para cá, de acordo com as crenças de cada um. A eventual possibilidade de o ex-presidente Lula ir à Etiópia e pedir asilo político fez com que a Polícia Federal apreendesse seu passaporte.

Assessores de Lula haviam noticiado que ele iria ao país para palestrar em um evento da FAO – braço da ONU para o combate à fome. Foi o que bastou para que jornalistas de fama nacional publicarem em veículos de peso que a palestra do ex-presidente não estava na agenda do evento – e que o evento da FAO só estaria marcado para o final deste mês. Em seguida, outros jornalistas publicaram fotos da palestra, que acabou sendo feita por videoconferência, porque Lula não pôde viajar. Isso tudo no mesmo dia.

No dia seguinte, escusas e justificativas: um jornalista chegou a dizer que errou porque o site da FAO é muito confuso. E ainda a conclusão de que a palestra não era no evento principal, que de fato será no fim.do mês, mas em um evento prévio. Ou seja, erraram todos: quem divulgou erradamente que a palestra era em um evento da FAO para o combate à fome e quem disse simplesmente que a palestra não estava marcada. Será que é tão difícil assim confirmar a existência de um evento de porte internacional? Parece-me que foi, no mínimo, um caso de apuração inadequada e insuficiente.

O outro caso é completamente diferente, mas não há quem não tenha visto, achado graça ou até se emocionado com o vídeo do ratinho tomando banho. Mais uma vez, uma história que levou multidões a diferentes interpretações em três dias. No primeiro dia, muitos riram e compartilharam o vídeo que supostamente mostrava um ratinho ensaboado, movendo-se como se soubesse tomar banho da mesma forma que fazem os humanos. Já no dia seguinte, a descoberta de que não se tratava de um rato, mas de um roedor chamado pacarana.

A notícia, então, causou indignação, pois denunciava que era um caso de maus tratos ao animal: ele estaria desesperadamente tentando retirar o sabão do corpo, com irritação no couro. Mas novamente, no outro dia, o caso foi amenizado: novas informações davam conta de que a pacarana repete sempre aqueles gestos, como se tomasse banho, e que o sabão não provocaria qualquer irritação. E agora, em quem acreditar?

Das duas histórias, fica uma lição: que tal todos nós, jornalistas ou não, apurarmos melhor os assuntos antes de compartilhar? Na dúvida, não compartilhe… 

 

Adriane Werner. Jornalista, especialista em Planejamento e Qualidade em Comunicação e Mestre em Administração. Ministra treinamentos em comunicação com temas ligados a Oratória, Media Training (Relacionamento com a Imprensa) e Etiqueta Corporativa.