Ricardo Marajó / FAS

O comerciário Carlos Eduardo Guebert da Silva, de 40 anos, prova como tem retorno certo o esforço da Prefeitura no auxílio às pessoas que chegam a Curitiba cheias de esperanças, mas com os bolsos vazios. Menos de 20 dias depois de ser acolhido pela Fundação de Ação Social (FAS) em uma das unidades para pernoite, ele já conseguiu trabalho e pode se desligar espontaneamente do atendimento socioassistencial.

A história de Carlos Eduardo em Curitiba começou no dia 28 de junho, quando ele chegou à cidade sem ter onde dormir. O trabalhador veio de Florianópolis (SC) e faz parte dos 57% que aportaram na Casa da Acolhida e do Regresso (CAR) vindos de outros estados – público que, entre 2017 e maio deste ano, demandou 7.953 pernoites.

No local, que funciona junto à mesma Rodoviária onde desembarcou, foi encaminhado para a Casa de Passagem Jardim Botânico – segundo ele, “um lugar bom e com comida boa” – onde não permaneceria por muito tempo. Sem perder tempo, começou a enviar currículo profissional para diversas empresas.

A grande oportunidade

Carlos Eduardo foi chamado pela rede Condor de supermercados para assumir uma vaga no setor de limpeza. Aceitou, passou por treinamento e foi trabalhar na loja do bairro Bigorrilho.

Com o salário que começou a receber, alugou um pequeno imóvel no Centro e, em 19 de julho, comunicou seu desligamento à CAR – já tinha, enfim, local próprio para morar, renda e direitos trabalhistas, como vale-transporte e alimentação. Ao mesmo tempo, ele passou a enviar dinheiro para a mãe e os dois filhos adolescentes em Florianópolis.

Apenas 50 dias depois de começar na função, o novo funcionário do supermercado foi indicado para experiência na função de supervisor da loja. A vontade de crescer na empresa e o bom nível de escolaridade fizeram com que ele se destacasse. Quando morava em Canoas (RS), Carlos Eduardo frequentou a faculdade de Direito até a metade do 3º ano. A ideia, agora, é prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e retomar o curso.

Apoio para quem precisa

O serviço de atendimento ao migrante que ajudou Carlos Eduardo até que ele conseguisse um emprego conta com uma equipe técnica para ouvir a história de vida de cada um e recuperar os vínculos familiares e com o município de origem.

O público da CAR é formado, em média, por homens (85%), de 18 a 59 anos (90%). Cidades do Interior do Paraná respondem por 34% dos atendidos mas, como Carlos Eduardo, a maioria (57%) vem de outros estados. Estrangeiros respondem por apenas 3% da procura.

Neste ano, são mais de 30 pessoas atendidas por dia e 600 por mês. O ano passado fechou com pouco mais de nove mil atendimentos.

Além de não ter emprego, muitos não possuem documentos de identificação ou carteira de trabalho, necessários para quem quer se colocar no mercado. A CAR ajuda na obtenção desses documentos.

Para quem não tem o mesmo sucesso de Carlos Eduardo e resolve voltar para casa, a CAR paga as passagens rodoviárias – foram 3.770 de janeiro de 2017 a maio passado, um investimento de R$ 566 mil.

Ao lado da expectativa de se estabelecer em uma cidade de grande porte ou com mais perspectivas de trabalho, vínculos familiares rompidos, uso de entorpecentes, transtornos mentais e violência doméstica estão entre as razões do desembarque em Curitiba.