SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O consórcio Rio Motorsports é o único que registrou interesse no processo de licitação para construção do autódromo de Deodoro, elaborado pela prefeitura do Rio de Janeiro. A proposta foi entregue nesta segunda (20) pela manhã e será analisada por uma comissão, de acordo com assessoria de imprensa da prefeitura. 


No final da tarde, a assessoria de imprensa do Rio Motorsports enviou nota afirmando que o consórcio havia sido o vencedor da concorrência para construir e ter a concessão do autódromo por 35 anos. No entanto, às 18h45 desta segunda, a Prefeitura desmentiu o anúncio da empresa. “Ainda não foi oficializado, a proposta está em estudo”, disse a assessoria da prefeitura.


Oficialmente, não há um prazo para divulgação do vencedor. Empresa e poder público também não se manifestaram sobre valores do novo autódromo, orçado inicialmente em R$ 850 milhões. A reportagem apurou que a prefeitura trata o assunto como uma das prioridades e pode oficializar a contratação da Rio Motorsports em até dois dias.


Uma ação do Ministério Público Federal (MPF), porém, pode adiar esse prazo. O órgão ingressou com pedido de liminar, na última sexta (17), para suspender o processo de licitação. Na ação civil pública contra o município, o MPF requer a paralisação do processo até que seja apresentado e aprovado o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) e seja expedida licença atestante a viabilidade ambiental do autódromo de Deodoro em um local conhecido como Floresta de Camboatá.


“Como a prefeitura dá como certa a construção do autódromo, na Floresta de Camboatá, sem ter o estudo de uma equipe técnica? Sem um parecer que sirva de base para o INEA (Estudo Estadual do Ambiente) para conduzir o licenciamento ambiental?”, questiona o procurador Renato Machado. “O aviso de licitação, publicado no Diário Oficial (10 de maio de 2019) não pede nenhuma exigência sobre comprovação de conhecimento ou experiência na área ambiental.”


Na ação, o MPF anexou dois relatórios de avaliação da vegetação feitos pela Diretoria de Pesquisas Científicas (DIPEQ) do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. O estudo mostra que, dos 201 hectares (área pouco maior que a do Parque do Ibirapuera, em São Paulo) da Floresta de Camboatá, 169 hectares reúne vegetação arbórea, um total de 200 mil árvores. Entre elas, há 122 espécies nativas representativas da Mata Atlântica.


Em setembro do ano passado, a Justiça já havia determinado que até a apresentação do EIA, o Inea e o Estado do Rio de Janeiro se abstivessem de realizar qualquer interferência na área ambiental da Floresta de Camboatá. Porém, nessa ação, a Prefeitura não foi parte e, segundo o MPF, “aproveitando-se disso, em acordo com os governos estadual e federal, para lançar o edital para licitação do Novo Autódromo, sem qualquer previsão acerca da necessidade de Estudo Prévio de Impacto Ambiental, ou mesmo dos custos com medidas mitigadoras e compensatórias dos impactos.”


Em nota enviada pela assessoria de imprensa, a empresa Rio Motorsports contesta o MPF. “A Rio Motorsports informa sua surpresa com o pedido de liminar protocolado pelo Ministério Público para suspensão do processo licitatório. Haverá um momento próprio para avaliação e aprovação técnica da licença ambiental para a construção do autódromo. A continuidade do certame, neste momento, não traz qualquer prejuízo ao meio ambiente nem impede o andamento normal de exame dos requisitos ambientais no momento apropriado”, disse o comunicado.


A assessoria da Prefeitura diz que não foi notificada sobre o pedido de suspensão do MPF e, por isso, não se manifestaria. Até o momento, o juiz ainda não havia julgado o pedido do MPF.


A construção do autódromo de Deodoro conta com colaboração do presidente Jair Bolsonaro. No começo deste mês, Bolsonaro assinou termo de cooperação para realizar provas em Deodoro. A Rio Motorsports negocia com a FOM (detentora dos direitos comerciais da Fórmula 1) para realizar o Grande Prêmio do Brasil no Rio de Janeiro a partir de 2021. O contrato da F-1 com Interlagos vai até 2020. 


O prefeito Bruno Covas diz que negocia a renovação do contrato -válido até 2020. “As tratativas [para renovação] estão adiantadas, temos uma reunião no mês que vem com o novo CEO da F-1, Chase Carey, para dar continuidade aos termos do contrato. Em nenhum momento tivemos resistências do novo proprietário do evento ou qualquer dificuldade”, disse Covas. “Fomos pegos de surpresa com esse anúncio [de possível mudança para o Rio].”