ADRIANO WILKSON

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Para o aplicador de películas Raimundo Pereira de Sá Junior, conhecido como Juninho, a situação estava insustentável. Crendo que a seleção brasileira se acovardou na semifinal da última Copa do Mundo, o que resultou em um humilhante 7 a 1 para Alemanha em casa, ele resolveu fazer um protesto diferente contra o time nacional que entrará em campo domingo, na Rússia, em busca do hexacampeonato.

Juninho reuniu seus vizinhos e sugeriu uma vaquinha. Inspirado pela greve dos caminhoneiros, (que “mostraram que é possível lutar pelo que é certo”, explicou ele) conseguiu arrecadar R$ 300. Acionou um grafiteiro amigo seu, que fez o trabalho por camaradagem. Logo depois a rua 8, em Teresina, capital do Piauí, amanheceu pintada com as cores da seleção argentina: os muros, as casas, as bandeirinhas e o indefectível sol que ornamenta a bandeira albiceleste olhando para o além com cara de paisagem.

“Sofremos a maior humilhação em 2014”, disse ele, indignado, mas bem-humorado, por telefone. “Gastaram o dinheiro para fazer três Copas e fizeram só uma. Inventaram que o Neymar se machucou, tiraram o nosso zagueiro e abriram as pernas para Alemanha fazer o que fez. Você tem dúvida que aquilo foi entregue?”, pergunta.

Pintar a rua nas cores dos rivais foi uma forma de protestar contra a “palhaçada” de 2014, mas também contra tudo o que está acontecendo no país, em especial a corrupção que desfalca os cofres públicos. “Eu vi o movimento dos caminhoneiros e percebi que dava para fazer um protesto diferente”, disse o aplicador de películas em carros, de 35 anos. “Você acha que a gente devia ficar parado olhando tudo isso acontecer sem fazer nada?”

Juninho não tem nenhuma ligação especial com os argentinos, mas diz ter escolhido o país platino por gostar da garra e determinação que os jogadores de lá mostram em campo.

“As pessoas têm criticado, dizendo que deveríamos escolher um país que seja um exemplo de combate a corrupção e desenvolvimento. Sei que a Argentina não é esse exemplo, mas também sei que eles jamais perderiam um jogo como nós perdemos aquele contra a Alemanha. Eles podem perder, mas vão lutar até o fim.”

Apenas uma casa na rua não foi pintada de azul e branco. Trata-se de um bar, que preferiu manter o tradicional verde e amarelo da bandeira brasileira. Nada que atrapalhe a convivência dos vizinhos. “Rapaz, estou falando com você e está todo mundo aqui bebendo junto no bar. Não tem essa de rivalidade, todo mundo se respeita e se entende. Nos jogos vamos colocar uma TV e ver juntos, todo mundo torcendo para quem quiser.”

Apesar de estar vestindo uma camiseta da Argentina, o piauiense disse esperar que a seleção brasileira dessa vez não se acovarde e represente bem o país na Rússia.