Gabriela Moraes Pexels – Há uma característica comum das novas gerações: contestar o comportamento da anterior

Bom, o Ritchie já explicou que cringe é verbo e não adjetivo. “Dizer que fulano é cringe não faz sentido algum”, argumentou o cantor de nove entre 10 paradas de sucessos dos anos 80, em sua conta do Twitter, logo após o bombardeio que já faz um mês, sobre críticas da geração Z (1995 a 2010) e os millenials (1980 a 1994), colocando o termo inglês como “vergonha alheia”. Eu traduzi como o velho e conhecido “démodé”. Nessa primeira etapa, Ritchie ainda explicou que “o significado exato do verbo é se encolher de vergonha alheia, nojo, asco”.

Aqui eu não vou entrar numa discussão das gerações que usam e abusam do termo cringe para identificação, mas o quanto isso (conflito de fases) é típico na mudança de comportamento social. Há uma característica comum das gerações que são novidade, que é justamente contestar o comportamento da anterior; enquanto essa, resgata saudosamente suas características como melhores que a da vigente.

Os filhos de baby boomers, herdeiros diretos da cultura pós-guerra, priorizaram o trabalho e o dinheiro, criando os pilares carreira, casa própria, carro, aposentadoria e família. Essa turma carrega a crença do ter para ser. Foram os pais dos millennials e da Z, que desprezam o processo, porque têm a diretriz de facilitar a vida deles, já que a sua foi dura demais. E isso vai continuar, de acordo com as tendências que se ajustam em ciclos.

O que nos assusta é a velocidade da mudança, sem tempo de digestão. O cérebro precisa mais de direção do que velocidade, porque um ritmo frenético o tempo todo tem outro nome que não é atualização, mas insanidade.

A gente quer acompanhar tudo, em dezenas de abas abertas e colocando como soft skill que é multitarefa? Como? Então se o Zé usa calça skinny e a Lisa ainda comenta no Facebook, de fato é apenas um meme. Quem nunca achou seu pai ou mãe careta? (pesquise o que isso significa).

Creio que o mais importante a ser notado nisso é a publicidade implícita nessa discussão, a sondar o comportamento do mercado e adivinhe? Quais produtos devem ser relançados, dando combustível para o trololó do cringe.

Uma pesquisa da Fung Global Retail & Technology, uma empresa de consultoria, aponta que a geração Z representa 26% da população mundial e só nos Estados Unidos, responde por 830 bilhões de dólares em gastos anuais. A palavra cringe e suas características estão entre os 50 termos mais buscados no último mês; e assim o algoritmo já começa a oferecer café da manhã, calças skinny e novas solicitações de amizade no Facebook no Feed. Quanto ao uso do termo boletos, considerado cringe, acho que continua firme e forte, os “Zs” só não têm muita ideia do quanto isso vai estar inserido na sua realidade daqui alguns anos.

Mais que uma mudança de perspectiva e outro olhar no mundo, os hábitos de consumo ainda são a mola-mestra dessa discussão, embora também tenha sido levantada questões de etarismo. Se essa nova geração é considerada mais consciente e empática às causas sociais e humanas, dizer que a geração passada é “vergonha alheia” já seria uma super contradição.

Entendo que cada geração vai se posicionar de forma diferente e com rebeldia. Aos mais velhos, cabe assistir de camarote, afinal quem são os imaturos? Então tudo que matura, o que é o ciclo natural da existência, é cringe ou sabedoria? E o novo como premissa de melhora, de aperfeiçoamento pode ser acolhido sem resistência, porque em algum momento, você foi, é ou será a página virada.

*Ronise Vilela é criativa de Comunicação Afetiva e Psicanalista Integrativa. Atende pacientes on-line e presencial com terapia que inclui escuta ativa, respiração consciente, escrita afetiva e meditação fácil.

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