BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – A ex-presidente argentina Cristina Kirchner (2007-15) foi apontada nesta segunda-feira (17) pela Justiça como suspeita de integrar uma associação ilícita que cobrava subornos a empresários que, com isso, obtinham benefícios em forma de contratos com o Estado.

O juiz que investiga o caso, Claudio Bonadio, ordenou o embargo de 400 milhões de pesos (R$ 100 milhões) pertencentes a Cristina e pediu que seja retirado o foro privilegiado que a ex-mandatária possui, por ser senadora, para que ela possa ser presa preventivamente.

Para isso, porém, seria necessário que o pedido fosse aprovado em votação do Congresso, o que parece pouco provável dada a jurisprudência que seria aberta para outros políticos em exercício de mandato.

“Apesar de haver divisão entre peronistas kirchneristas e os outros, num caso como este a tendência é que votem de modo corporativo, ou seja, aumenta a chance de que o foro não caia”, disse Luis Naidenoff, senador pela UCR

Sem o aval do Congresso, a prisão preventiva só poderia ser levada a cabo se a ex-presidente for pega em flagrante.

O caso faz parte da investigação dos “cadernos da corrupção”, detonada no começo de agosto quando a Justiça recebeu uma cópia de vários cadernos de anotações pertencentes ao motorista Oscar Centeno, funcionário do Ministério do Planejamento durante os governos de Cristina e seu antecessor e marido, Néstor Kirchner (2003-2007).

Neles, Centeno teria anotado, durante anos, as quantias contidas em bolsas e malas, além dos endereços onde eram entregues, nos quais eram carregados os valores em dinheiro efetivo destinados a vários políticos.

Entre os citados estão Néstor Kirchner, morto em 2010, o ex-ministro Julio De Vido, que perdeu o foro e está preso por outro processo de corrupção, e mais de dez ex-funcionários do governo kirchnerista.

Esta é a primeira investigação de porte em que a Justiça argentina está usando a figura do “arrependido”, parecida à da “delação premiada” existene no Brasil. Para isso, ditou a prisão preventiva de vários empresários, que vêm firmando acordos para diminuir ou derrubar suas penas.

A decisão do juiz de incluir Cristina no processo se deu após informações obtidas de alguns desses empresários (os nomes não foram revelados) que informaram que a ex-presidente sabia do esquema.

Este passa a ser o décimo processo em que Cristina Kirchner está envolvida.

Entre as outras ações nas quais está sendo processada estão as de enriquecimento ilícito quando ela e seu marido ocuparam o poder, o fato de ter comprado dólares com informação privilegiada (antes de desvalorizações do peso) e a lavagem de dinheiro por meio de seus hotéis e propriedades na Patagônia.

Desde o final de agosto, três residências que pertencem à Cristina foram alvo de buscas por provas relativas às ações.