Henry Milleo – Luciano Marini

Um check up de rotina em Jhonnie, de 11 anos, revelou a existência de um linfoma — um tipo de câncer — e um problema muito comum em Curitiba: a falta de sangue para transfusão e uma corrida contra o tempo. “Há apenas um lugar em Curitiba que faz transfusão de sangue, mas lá também não havia estoque e apenas uma bolsa custava cerca de R$ 500, sem contar a transfusão”, conta Julianne Coutinho, a médica veterinária responsável pelo diagnóstico do gato da raça Sagrado da Birmânia.

Sim. A transfusão de sangue era para uma animal de estimação, não para uma pessoa. A similaridade de situação, contudo, não para por aqui: a transfusão, assim como nos humanos, exige que o tipo sanguíneo do doador seja o mesmo do receptor. Curitiba tem apenas uma empresa que faz transfusão de sangue em cães e gatos e apenas um laboratório que faz a tipagem sanguínea do animal.

Apesar disso, na Pet Transfusion não há estoque de sangue de gatos, apenas de cães. O veterinário responsável pela coleta de sangue nos cães doadores, Luciano Marini do Amaral, explica essa situação pela dificuldade de tirar sangue de um gato. “Normalmente, eles precisam ser sedados para que a gente consiga tirar sangue deles”, conta. “Mas essa é uma meta paraeste ano, ter um sistema de coleta e estoque de para sangue de felinos “diz.

Os bancos de sangue para cães e gatos não são muito comuns. O primeiro hemocentro veterinário privado do Brasil, o Hemopet abriu as portas em 1999. Antes dele, algumas universidades mantinham bancos de sangue animal, mas o estoque era consumido nos próprios hospitais universitários.

A proliferação de bancos de sangue de cães também se deve ao diagnóstico mais comum de erlichiose, uma doença comum em cães transmitida por carrapatos, que nos casos mais graves exigem a transfusão de sangue.

Isso aconteceu com Ranger, um cão de 2 anos da raça Pastor Alemão. O dono do animal relata que percebeu sangue no focinho do cão. “Ai levei ele no veterinário que deu uns remédios e disse que se ele não reagisse seria necessário transfusão, mas ele sarou”, conta o advogado Deoclécio Bispo de Silva.

Amaral, da Pet Transfusion, conta que a doação de sangue se inicia na seleção dos doadores que é feita de acordo com o quadro clínico dos animais e não de raça. “Qualquer cão pode doar desde que esteja bem de saúde”, explica. Ele esclarece que mais do que a saúde ao animal precisa ter temperamento. “Os doadores precisam ser dóceis e tranquilos, pois não trabalhamos com sedação ou anestesias”, diz. “O doador precisa estar calmo e ter seu conforto assegurado”, ressalta.

Procedimento é praticamente igual ao realizado em humanos

Os cães após doarem o sangue, voltam a sua atividade normal instantaneamente após a coleta. Assim como os humanos, após a doação precisam se alimentar. Como o processo de doação é realizado a cada 2 meses, são acompanhados periodicamente por exames clínicos e exames de sangue a cada coleta.

São garantidos também toda a sua sanidade, com os antiparasitários externos e vermífugos que os protegem de pulgas, carrapatos e vermes internos.

O Concentrado de Hemácias, permanecerá em unidade de refrigeração especial para banco de sangue sob uma temperatura de 4°C, podendo ficar 35 dias armazenada.
O Plasma Fresco é congelado em um freezer especial, que chega a temperatura de -30°C e é agora chamado de Plasma Fresco Congelado. Nessa temperatura, ele mantém sua validade por até 1 ano.

Já o Concentrado de Plaquetas, ficará se movimentando em equipamento específico, para que as plaquetas não se agreguem, e somente terá sua validade por 5 dias.

Maior desafio é conseguir manter o estoque, apesar da complexidade

A população de animais de estimação idosos cresce rapidamente, e seus donos se dispõem a gastar mais a fim de prolongar a vida dos bichos. Esta é uma dificuldade para o serviço de banco de sangue que, caro e complexo, ainda é pouco difundido nas clínicas veterinárias. Como não há legislação específica, os veterinários são orientados a seguir as rígidas normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para bancos de sangue humano.

O desafio, em ambos os casos, é parecido: conseguir doadores e manter o estoque. Para ser doador, o animal tem de ser saudável e atender a outros requisitos. Antes da coleta, o doador passa por uma bateria de exames.

Transfusões sanguíneas fazem parte do tratamento de diversos problemas, como insuficiência renal, doença do carrapato e verminoses. Em Curitiba cada transfusão de sangue para cão custa em R$ 200 e R$ 450, dependendo do tipo de material necessário, segundo Amaral.

Para gato o valor está em torno de R$ 500 em algumas clínicas que compram de fora ou levam um gato doador de sangue. Os gatos têm três tipos sanguíneos (A, B e AB) e só podem receber sangue compatível com o seu.

Sangue canino é outra história. Há mais de 18 tipos de sangue canino catalogados até o momento. Numa primeira transfusão, cães podem receber sangue de qualquer doador saudável. A chance de ocorrer uma reação é baixa. A partir da segunda transfusão, o cão só pode receber sangue compatível com o seu.

Trata-se de mais um grau de sofisticação, num mercado crescente que atende atualmente cerca de 30 milhões de cães e movimenta R$ 15 bilhões, pelos cálculos da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet).

SERVIÇO

Pet Transfusion
Endereço: Rua Valentin Trevisan, 155, bairro Bom Retiro
Site: http://www.pettransfusion.com.br/
Telefones: (41) 99874-1318 / (41) 9171-8289 / (41) 9171-2119

Hemopet
Site: https://hemopet.net/