Franklin de Freitas – “Jorge Bernardi (Rede): “Onde vamos arrumar isso?” “

A exigência, por parte do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), de que os partidos entreguem às emissoras de rádio e televisão, os programas gravados em uma mídia física de alta resolução tornou-se uma ameaça à campanha de candidatos de siglas menores nas eleições deste ano no Paraná. Ontem em reunião no TRE para confirmação da distribuição do horário eleitoral, os representantes dos partidos receberam a informação de que as emissoras de TV recusaram a responsabilidade de enviar os arquivos às filiais no interior do Estado. Os partidos afirmam que não puderam opinar. A assessoria do TRE confirmou que o juiz Ricardo Augusto Reis de Macedo tomou a decisão em razão da falta de consenso entre partidos e emissoras.
O problema, segundo os partidos, é que isso deve gerar gastos significativos, já que cada programa de TV, por exemplo, deve ser gravado em um disco óptico do tipo “XDCAM” e entregue em individualmente em 46 geradoras do Estado. O custo unitário para enviar o disco ficaria entre R$ 100,00 e R$ 500,00, com base preços de mercados de varejo na internet, segundo estimativa dos partidos. Alguns dos discos são regraváveis, mas isso não anularia o gasto logístico para entrega dos programas. 
Somente para o governo do Estado, se o partido optar por não repetir, são 24 programas para o período de 30 dias, enviados diariamente, que serão transmitidos três vezes por semana, dois programas por dia de 31 de agosto a 4 de outubro.
Cada um dos programas diferentes terá que ser gravado nesse disco óptico – por ser o formato adotado pelas TVs após a conversão para sinal digital – e deve ser entregue em 58 emissoras repetidoras do programa eleitoral Estado. Além disso, há o custo logístico para entrega dos discos de carro, via correios, por mala-direta ou outro meio pessoalmente.
Há ainda as inserções, que devem ser entregues em mídias separadas por chapa. São quatro cargos em disputa neste ano: deputado estadual, deputado federal, governador e senador. 
O PT, por exemplo, que optou por repetir programas da tarde e noite na TV, vai gravar 15 programas para o candidato ao governo Dr Rosinha e 15 para a candidata ao Senado, Mirian Gonçalves. O partido estima gastar R$ 300 mil somente em discos ópticos dos programas da majoritária, fora o custo para entregar nas repetidoras do Estado e dos programas das eleições proporcionais e inserções. 
Nuvem – Em Curitiba, a sede do TRE disponibiliza um “pool de emissoras”, que é um local onde várias emissoras de TV se unem para transmitir um único evento regional. Mas as demais localidades do Estado não recebem a transmissão e as emissoras alegam que não podem repassar entre as filiais.  
Uma sugestão de diversos partidos, mas que foi ignorada pelo TRE do Paraná por gerar custos ao órgão, foi a transmissão dos programas via internet, por meio da “nuvem digital”. O TRE de Santa Catarina, por exemplo, optou por esse método, em nome do enxugamento de gastos das campanhas. O mesmo foi adotado nas campanhas presidenciais. 

'Não temos esse dinheiro', diz candidato da Rede
A situação da geração dos programas eleitorais de rádio e TV no Paraná para as eleições deste ano é ainda mais complicada para campanhas que não contam com recursos do fundo eleitoral, como a do candidato ao governo Jorge Bernardi (REDE), que estima gastar no máximo  R$ 200 mil captados somente com doações de pessoas físicas e do próprio candidato. “Onde a gente vai arrumar esse dinheiro? Quem roubou dinheiro público tem esse dinheiro, nós não temos”, reclama Bernardi.
A REDE prioriza a campanha presidencial da ex-ministra Marinha Silva e não vai distribuir dinheiro para as campanhas ao governo. 
Conforme representantes dos partidos, os integrantes do TRE disseram na primeira reunião que a exigência foi feita pelas emissoras, que não teriam todas os meios necessários para receber os arquivos pela internet. 
O plano de mídia da campanha eleitoral no Paraná deve ser concluído após uma segunda reunião, na sexta-feira. A conclusão foi adiada devido à situação do candidato ao governo Ogier Buchi (PSL), que fez o registro da candidatura por conta própria, por não contar mais com o apoio do próprio partido. Na sexta, após definição dessa candidatura, o TRE poderá distribuir os tempos de TV e rádio entre os candidatos. Após isso, será possível estimar os gastos que cada partido terá para reproduzir a propaganda eleitoral.

PT aponta contradição
Para o coordenador de comunicação da campanha do PT do Paraná, Mário Messagi Jr, o método adotado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Parnaá (TRE/PR) para a logística de entrega dos programas de rádio e televisão afeta diretamente as candidaturas com menos recursos. “A decisão do TRE (PR) é antidemocrática, porque praticamente inviabiliza as campanhas de menor porte, mais enxutas. O custo adicional é enorme. Fizeram uma reforma eleitoral toda pautada no discurso de diminuir as estruturas de campanha, torná-las mais baratas. A Justiça Eleitoral bate nessa tecla. E isso é louvável. O problema é que hoje de manhã, com uma batida de martelo, esqueceram essa narrativa e colocaram pelo menos R$ 500 mil na nossa conta. Não faz sentido nenhum. Ou você quer baratear as campanhas ou você não quer”, questiona.