Montgomery Clift é quem fazia o protagonista de Freud, Além da Alma, de John Huston. Atravessava um momento difícil. Sofrera um acidente de carro que deixou sequelas em seu rosto. Pouco antes, havia feito De Repente, no Último Verão, de Joseph L. Mankiewicz, baseado na peça de Tennessee Williams sobre neurocirurgião contratado por milionária (Katharine Hepburn) para lobotomizar a sobrinha (Elizabeth Taylor). O que a poderosa Mrs. Venable tenta impedir é que Catherine revele o segredo da morte de seu filho – a homossexualidade de Sebastian. Foi uma rodagem complicada. Hepburn queixou-se mais tarde que Mankiewicz teria infernizado a vida do astro, que se mantinha no armário numa Hollywood preconceituosa e ainda sofria de uma paixão platônica por Liz.

Sua precária estabilidade emocional entrou em colapso por conta da própria ficção. Monty era um ator do ‘método’. Tinha de ‘encarnar’ o personagem e o Dr. Freud, no filme, vive grande tensão. Investigando a mente de dois pacientes – Cecily Koertner e Carl von Schlosser, criados por Susannah York e David McCallum -, vale-se da interpretação dos sonhos para formular teorias sobre o inconsciente. Na época, a crítica não foi generosa. Na França, a revista Cahiers du Cinéma não tinha John Huston na conta de autor. Era – um verdadeiro autor – e a importância de Freud, para ele, ultrapassou a experiência de um filme. Abriu uma vertente psicanalítica que enriqueceu seu cinema, levando a uma obra-prima definitiva como Os Pecados de Todos Nós, em 1968.

Em 2011, quase meio século depois, foi a vez de David Cronenberg dar sua visão sobre os bastidores da nascente psicanálise. Um Método Perigoso ficcionaliza a relação volátil entre Freud e Jung. No centro da tensão entre os dois, está uma paciente, Sabina Spielrein, cuja histeria Carl Jung (Michael Fassbender) trata segundo o método do Dr. Freud (Viggo Mortensen). Quando Jung inicia uma ligação mais íntima com Sabina, é demais para Freud. Polemizam, e o futuro da psicanálise é muito determinado por essa rivalidade.

No longa de Nikolaus Leytner, que agora estreia, um jovem de 17 anos vai trabalhar como aprendiz numa tabacaria de Viena. No ar, são perceptíveis os signos de tensão política, por causa do advento do nazismo.

O garoto (Simon Morzé) apaixona-se e, sendo o renomado Dr. Freud um cliente do estabelecimento – onde compra seus charutos -, Franz não hesita em lhe pedir conselhos. Freud, que vive o dilema de permanecer ou sair da Áustria, admite sua ignorância em face do grande mistério representado pela mulher. Não deixa de ser a subversão da máxima de que Freud tudo explica.

Vem mais Freud por aí. Ele inspira a primeira produção original austríaca da Netflix. Ainda sem data de estreia, a série Freud, falada em alemão, mostra o médico ainda jovem usando seus métodos para investigar serial killer e uma grande conspiração criminosa na Viena de 1886. Marvin Kren, da série 4 Blocks, dirige o roteiro de Stefan Brunner (Motoqueiro Fantasma – Espírito de Vingança) e Benjamin Hessler (O ABC da Morte 2).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.