Os chamados feitos à Polícia Militar para atuação em pancadões no Estado de São Paulo cresceram 78% entre 2014 e 2018. E depois das nove mortes em Paraisópolis aumentaram as discussões sobre o protocolo que rege o atendimento dessas ocorrências e o papel de outros órgãos na fiscalização dos eventos e na promoção de cultura e lazer nas periferias.

Entre 2014 e 2018, as denúncias passaram de 29,3 mil para 52,1 mil por ano, o equivalente a 142 registros por dia. A maior parte se dá na capital e na Grande São Paulo (88%). O 16.º batalhão, que atuou em Paraisópolis na semana passada, está entre os três onde os chamados são mais frequentes.

Publicidade

powered by Rubicon Project

Os dados foram repassados ao Estado pelo Fiquem Sabendo, agência de dados independente e especializada na Lei de Acesso à Informação, que obteve a base da Polícia Militar. As áreas do 46.º (Ipiranga) e do 45.º (centro, Belém e Mooca) lideram a lista das localidades onde as reclamações são mais frequentes, com mais de 2,5 mil denúncias. Os chamados, no entanto, se estendem para diversas regiões e são frequentes em áreas de 31 batalhões da cidade.

Protocolo

A gestão do governador João Doria (PSDB) anunciou durante a semana que quer usar drones e câmeras nas fardas dos policiais para filmar todas as operações realizadas em São Paulo. E admite rever protocolos de ação. O gerente do Instituto Sou da Paz Bruno Langeani disse ao Estado que o tema dos pancadões precisa ser objeto de políticas públicas. “A PM fica sozinha para dar conta de todas as reclamações e problemas desses eventos”, disse.

Lamentando o desfecho do que houve em Paraisópolis, Langeani observou que em muitos casos é melhor que a polícia deixe de atuar. “A ação de controle de distúrbios civis deve passar por uma série de avaliações que leve em consideração a quantidade de policiais, os equipamentos disponíveis, a avaliação do local e o comportamento da multidão.” Ele lembra que há estratégias alternativas que podem ser mais efetivas em situações como a de Paraisópolis. Uma delas, lembrou, é a ocupação prévia do local onde ocorreria um baile irregular. Na impossibilidade de chegar antes, a polícia também pode optar por atuar no entorno, focada no combate ao crime, com atenção a roubos e furtos de veículos nas proximidades, assim como pequenos furtos ou roubos. “Assim, a atuação se restringe.”

Para lidar com o problema, o ex-comandante da PM Carlos Alberto Camargo também diz ser necessária a criação de estruturas saudáveis entre o Estado e as comunidades. No fim dos anos 1990 foi Camargo o responsável pela implementação do policiamento comunitário em São Paulo. Agora, ele pede a retomada da filosofia.

Já o coronel da reserva Benedito Roberto Meira, comandante da PM entre 2013 e 2015, entende que os pancadões deveriam deixar de ser tratados como casos de desordem. Os jovens, disse, merecem uma oportunidade de se divertir, mas deveria haver intervenções que os levassem a grandes espaços públicos em que os eventos pudessem transcorrer em segurança.

Em nota, a Polícia Militar afirmou que monitora os possíveis locais em que ocorrem bailes funk, ocupando a região antecipadamente, evitando assim o início. A corporação acrescentou que, somente em casos extremos, “como briga generalizada, pessoas passando mal ou feridas, a polícia age para salvar vidas e garantir a integridade física de todos”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.