Colaboração

Curitiba aparece com a cesta básica mais cara no mês de julho, segundo pesquisa divulgada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com valor de R$ 526,14, acima até do que de São Paulo (R$ 524,74). Após 22 anos (abr/1998) Curitiba voltou a ser a Cesta Básica mais cara entre as capitais pesquisadas pelo Dieese.

Os dados da Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos (tomada especial devido à pandemia do coronavírus), realizada pelo Dieese, indicaram que, em julho, os
preços do conjunto de alimentos básicos, necessários para as refeições de uma pessoa adulta (conforme Decreto-lei 399/38) durante um mês, diminuíram em 13 capitais
pesquisadas, incluindo as quatro do Sudeste e a maioria das localizadas no Nordeste.

Em outras quatro cidades, o custo da cesta básica subiu. Em São Paulo, única capital onde foi realizada coleta presencial, a cesta custou R$ 524,74, com variação negativa de -4,07% na comparação com junho. No ano, o preço do conjunto de alimentos aumentou 3,60% e, em 12 meses, 6,40%.

Com base na cesta mais cara, que, em julho, foi a de Curitiba (R$ 526,14), o Dieese estima que o Salário Mínimo Necessário deveria ser equivalente a R$ 4.420,11, o que
corresponde a 4,23 vezes o mínimo vigente de R$ 1.045,00. O cálculo é feito levando em consideração uma família de quatro pessoas, com dois adultos e duas crianças.

Principais variações
• Os preços do leite integral e da manteiga tiveram aumento em 16 e 12 capitais, respectivamente. As elevações nos valores do leite variaram entre 1,07%, em
Florianópolis, e 12,05%, em Goiânia. O preço da manteiga ficou entre 0,04%, em Goiânia, e 4,17%, em Curitiba. A disponibilidade restrita de leite no campo resultou
em alta dosderivados lácteos.
• O valor do óleo de soja apresentou alta em 15 capitais, com destaque para Campo Grande (6,22%), Curitiba (4,50%) e Rio de Janeiro (4,31%). Não houve variação no
preço em João Pessoa e, em Salvador, foi registrada queda de -0,23%. As demandas interna e externa têm elevado as cotações da soja e derivados.
• O preço médio do arroz agulhinha ficou mais alto em 14 capitais, com destaque para Aracaju (12,18%), Rio de Janeiro (6,11%) e Curitiba (5,96%). Em Porto Alegre (-
0,89%), Belo Horizonte (-1,46%) e Campo Grande (-2,31%), o custo recuou. O aumento se deve aos baixos estoques do cereal.
• De junho para julho, o valor do tomate caiu em 14 cidades. As quedas mais intensas ocorreram em Aracaju (-39,71%), Vitória (-30,27%) e Natal (-21,77%). As reduções devem-se ao abastecimento do fruto, que, com as temperaturas mais elevadas, teve a maturação acelerada.
• O preço do feijão recuou em 12 capitais. O tipo carioquinha, pesquisado no Norte, Nordeste, Centro-Oeste, em Belo Horizonte e São Paulo, variou entre -1,27%, em
Aracaju, e -15,44%, em Belém. Apenas em Natal (0,69%) e Brasília (4,93%) houve elevação do valor médio. Já o custo do feijão preto, pesquisado nas capitais do Sul, em Vitória e no Rio de Janeiro, subiu nos municípios sulistas – com destaque para Curitiba (8,54%) – e diminuiu no Rio de Janeiro (-0,12%) e em Vitória (-1,03%). O início da colheita da terceira safra de feijão carioquinha e a fraca demanda interna ocasionaram a queda nos preços. No caso do feijão preto, o fim da safra no Brasil e a necessidade de importação de outros países encareceram o produto.
• A batata, pesquisada no Centro-Sul, teve o custo reduzido em todas as cidades. As quedas oscilaram entre -0,32%, em Campo Grande, e -36,35%, em Belo Horizonte.
Com o avanço das safras e, consequentemente, maior oferta do tubérculo, os preços caíram.

Metodologia

Em 18 de março, devido à pandemia do coronavírus, o DIEESE suspendeu a coleta presencial de preços dos produtos que fazem parte da Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos nas 17 capitais onde o levantamento é feito mensalmente (os dados parciais de março foram divulgados no final daquele mês). Ciente da importância da pesquisa, sobretudo em um momento como esse, no qual toda a economia é afetada, e para evitar um apagão de dados sobre os preços dos principais produtos básicos de alimentação, a entidade fez um esforço para repensar a forma de continuar a levantar os valores da cesta a partir de abril.

A solução encontrada foi uma tomada de preços nos estabelecimentos que fazem parte da amostra regular da pesquisa, por telefone, e-mail, consultas na internet e em
aplicativos de entrega. Diferentemente da pesquisa presencial, a entidade encontrou inúmeras dificuldades nessa coleta, entre elas a ausência de dados em sites, aplicativos ou a recusa dos funcionários dos estabelecimentos, atribulados pelo trabalho em tempo de pandemia, em repassar os preços por telefone ou e-mail. Os problemas obrigaram o DIEESE a reduzir e modificar a amostra original.

Mesmo com toda essa mudança na forma de pesquisar os preços, os dados apurados têm revelado tendências semelhantes de alta ou queda em todas as capitais ou
naquelas que fazem parte de uma mesma região geográfica, coerência que permite a divulgação das informações capturadas. Entretanto, é importante levar em consideração que as variações devem ser relativizadas, uma vez que os preços médios observados são resultado não só da atual conjuntura, mas do fato de não ter sido possível seguir à risca a metodologia da pesquisa. Sem a coleta presencial, os preços podem estar subestimados ou superestimados, pois: 1) os dados captados pela internet referem-se mais a grandes redes varejistas, que têm lojas on-line; 2) nem sempre foi possível captar promoções nos preços dos produtos; 3) no caso de alguns itens, foi preciso coletar o preço de marcas diferentes das habitualmente pesquisadas.

A pesquisa à distância foi realizada em 16 capitais. Na cidade de São Paulo, o DIEESE manteve a coleta de preços presencial, com número menor de pesquisadores e
em horários em que os estabelecimentos estavam mais vazios. As feiras livres, que também fazem parte da pesquisa regular, foram excluídas da tomada, por razões óbvias.