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Para muitas pessoas, os 60 anos marcam um ponto de transição na vida, seja positiva ou negativamente. Na maioria dos casos, o perfil dos novos 60+ revela pessoas que encaram a idade com mais disposição, sendo que 73,2% sente que são mais jovens do que a idade real. No entanto, há uma pequena parcela que sofre com “o peso da idade”, acaba se isolando devido a problemas físicos ou emocionais e é grupo de risco para o desenvolvimento de depressão em idosos.
De fato, é menos comum encontrar pessoas com mais de 60 anos com diagnóstico do transtorno depressivo maior. A prevalência é de 3% a 6%. Mas, quando se observa os sintomas de depressão, a taxa aumenta entre 15% e 33%. “A idade em si não é um fator de risco para a incidência da depressão clínica, sendo menos frequente em idosos do que em populações mais jovens. Entretanto, a identificação de sintomas isolados ou associados da síndrome depressiva são encontrados em alta frequência entre idosos”, afirma a psicóloga Samila Batistoni, mestre em gerontologia. Nessa etapa da vida, a depressão está mais associada a respostas somáticas do que à tristeza.
A pesquisa O Brasil 60+, que traçou o perfil dos novos idosos (que rejeitam essa nomenclatura), mostra que 13% deles são resistentes quanto à chegada dessa idade. Entre eles, prevalecem os indiferentes, e a junção de ambos forma um grupo que seria de risco para o desenvolvimento de depressão em idosos.
“É possível que esse perfil coincida, em grande parte, com aqueles que manifestam insatisfação, baixa esperança, dores e fadiga nos questionários de sintomatologia depressiva. É possível que já possuam baixas expectativas futuras e inexistência ou ineficácia de recursos para enfrentar os eventos da vida”, diz Samila.
A especialista cita que os estudos em psicologia do envelhecimento apontam a manutenção de um potencial adaptativo, presente principalmente nas fases iniciais da velhice. Nesses casos, a pessoa pode usar recursos de resiliência desenvolvidos ao longo da vida. “Por exemplo: outras metas ou propósitos de vida, outros papéis ou funções sociais a serem desempenhados e que compensam outras mudanças ou perdas, maior foco no presente e estratégias de maximização do bem-estar”, enumera.
A psicóloga faz uma distinção entre a depressão que ocorre pela primeira vez após os 60 anos e aquela que é a manifestação de quadros iniciados em fases anteriores da vida.
“Quando a depressão é iniciada anteriormente, o que é recorrente, a depressão está associada ao reconhecimento da condição pelo próprio idoso, com sintomas de tristeza e anedonia [perda de satisfação, prazer]. A que se manifesta pela primeira vez na velhice tende a estar muito associada a alterações cerebrais ou cerebrovasculares ou mesmo metabólicas. Há maior manifestação de irritabilidade e referência a dores e incômodos sem especificação”, explica.
Em ambos os casos, o tratamento para depressão é possível e se dá tanto por medicamentos quanto por psicoterapia. “O prognóstico da depressão na velhice também é pior do que em outras fases da vida, associando-se com comorbidades, incapacidades, maior uso de serviços médicos e mortalidade”, acrescenta a especialista.
Uma vida social ativa tem sido prescrita por profissionais e leigos como uma receita mágica do sucesso na velhice. O fortalecimento das redes de suporte social são fontes importantes de apoio emocional, instrumental e informativo. Entretanto, o conceito de atividade, por si só, tem sido classicamente rechaçado como estratégia para envelhecer bem. Estar ativo a qualquer custo, além de pouco motivador para os idosos, pode expô-los a baixo senso de eficácia, comparações sociais negativas, quedas ou estresse.

Considerando os idosos em geral, há uma tendência à diminuição da participação social, principalmente naquelas que envolvem trocas sociais mais amplas, chamadas de distais, que são geograficamente mais distantes e nas que exigem maior esforço físico ou precisam de energia. Estudos nacionais e internacionais apontam também um pouco de restrição em atividades consideradas intermediárias (como ir à igreja, festas, eventos) e maior manutenção de atividades proximais (como fazer e receber visitas em casa e se comunicar por telefone). Neste último caso, a redução está ligada à presença de depressão ou queixas psicológicas de insatisfação com a vida
A especialista afirma que os considerados “comportamentos típicos na velhice” não são da “velhice em si”. “Tendem a ser mais reflexos das condições ambientais a que eles estão expostos (como barreiras arquitetônicas, negligência, ausência de oportunidades e, até mesmo, excesso de ajuda comportamental) ou da manifestação de doenças que se apresentam no contexto da velhice”, diz.
Contudo, todas as manifestações que diferem grandemente dos interesses e funcionalidade do idoso, principalmente que trazem prejuízos funcionais e sofrimento emocional, são dignas de atenção e avaliação. Esquecimentos que prejudicam o funcionamento diário, dificuldades de aproveitar recursos do ambiente para o enfrentar uma situação, quadros de apatia e falta de prazer no envolvimento em atividades que sempre se gostou de realizar são sinais de depressão importantes e que causam sofrimento.