Tita Blister

Um

ano? Uma década? Perdi as contas de quanto tempo havíamos marcado de nos encontrar. Na verdade reencontrar. Sempre fomos bons em 

conversas, em brincar com as palavras, em nos perdemos nos verbos intransitivos, de não fazer rodeios na pele. Quando saímos, por
vezes éramos a rainha e o rei do baile e por tantas outras, fantasmas não vistos por ninguém, porque nossos olhos só nos focavam pela
luz do infravermelho do coração.

Não
é de hoje e nem de ontem que estamos ensaiando esse reencontro. Aqui digo eu, mas na verdade há vários nós em situações semelhantes ou
com alguns detalhes diferentes. Meio amigos, meio amantes, meio paixão, meio amizade, pares encantados por distâncias de
naturezas diversas.

O
casal 1 se viu há meses atrás, depois de muitos anos e tudo ficou meio estranho de novo. Aqui não interessa a ruptura, ficou tudo na
interpretação da caixa preta, embora palavras engasgadas tenham saído amarguradas. O tempo esvaziou a mágoa, e, de repente,
iriam se encontrar outra vez. Uma data após terminar um ciclo, algo rápido avistado quase da esquina.

No
casal 2, o nhem nhem nhem dos diálogos virtuais ficaram mais quentes, além dos pixels.

  • Quero ver você!
  • Te amo!
  • Vamos?
  • Vamos!

Tinha
um risco, um alto risco. Tudo combinado milimetricamente. Todos os casais prontos, sem ansiedade, sabiam que o encontro era certo, o
Universo a conspirar e … distância, isolamento.

Os
desencontros programados pelo sistema teriam sido mero acaso? Nem se quisessem, esses amantes podem se tocar. O que fizeram com o amor
nesses tempos letais? Ou será que o novo mundo propõe outra forma de amar? Enquanto isso, o casal 1 e o casal 2 estão preocupados
com a humanidade. Em casa!