BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Enquanto Macri se preparava para fazer sua intervenção na ONU, reunia-se com empresários para estimular os investimentos na Argentina e mostrava-se de bom humor -até mesmo puxando para dançar a vice-diretora executiva da fundação Atlantic Council, Adrienne Arscht, na noite anterior, Buenos Aires viveu nesta terça-feira um dia de paralisia e tensão.

A quarta greve geral dessa gestão, iniciada em 2015, reuniu as duas principais agremiações de sindicatos do país, a CGT (Confederação Geral do Trabalho) e a CTA (Central de Trabalhadores da Argentina). Foram suspensos os transportes públicos, os serviços de aeroportos, os bancos, os postos de gasolina, as escolas, parte do comércio e a coleta do lixo. A saúde pública funcionou apenas em questões de emergência, apenas os pronto-socorros foram abertos.

Opções para comer fora só eram encontradas em poucas regiões turísticas da cidade, porém casas de câmbio para trocar dinheiro e caixas eletrônicos, para sacar, estavam fechados, causando problemas a moradores e a turistas.

No final da tarde, os líderes sindicais deram uma entrevista dizendo que a adesão foi mais do que satisfatória. O líder da CGT, Juan Carlos Schmid, disse que o “apoio contundente mostra que essa política econômica adotada pelo governo não funcionou, não está servindo para os trabalhadores, que não têm mais como chegar ao fim do mês com a inflação e o peso desvalorizado.”

E acrescentou: “Se o governo diz que não há plano B, porque crê que o plano deles é o único correto, nós vamos mostrar nas ruas qual é o verdadeiro plano B, voltando a parar tudo”, disse, e foi aplaudido.

Os sindicalistas disseram que a greve desta terça-feira não será a última e que as medidas de força irão continuar. Uma das coisas que os sindicalistas pedem é a revisão dos índices que calcularam as negociações paritárias, no primeiro semestre.

Na Argentina, a negociação paritária entre patrões e empregados leva em consideração o índice de inflação previsto pelo governo no começo do ano, que naquela ocasião era de 15%.

Pois, no acumulado do ano, a inflação já está em 25%, e a previsão é que chegue aos 40% ou 45% em dezembro, segundo economistas independentes.

Outra das reivindicações é que sejam retirados do projeto de lei do Orçamento enviado ao Congresso todas as medidas que significam ajustes em planos sociais ou em pensões, que não se volte a tratar da reforma trabalhista que o governo queria retomar neste segundo semestre e que se deixe de pedir mais dinheiro emprestado ao FMI.

Tirando a tensão entre os sindicalistas, os portenhos aproveitaram esse que pareceu um feriado de primavera. Os parques estavam cheios e a temperatura agradável (entre 20 e 25 graus).

Havia gente correndo, passeando com cachorros e aproveitando o por-do-sol. Os problemas passavam mais por não ter onde repor gasolina, nem tirar dinheiro, e as opções gastronômicas eram escassas.

Os famosos supermercados chineses, que já viraram tradição em Buenos Aires nos últimos dez anos, que não são sindicalizados e não aderiram à greve, acabaram sendo o local preferido de abastecimento, atraindo muita gente por volta do meio-dia e no começo da noite.