Às segundas e quintas, lavo as roupas. Terças e sextas, cuido das toalhas, lençóis e janelas. Às quartas e sábados, faço faxina. E no domingo, me dedico à minha coluna – não a do corpo, mesmo que tenha total consciência de que ela também anda precisando de cuidados, mas esta que você lê agora. E aqui preciso dizer que não sou a única a trabalhar em casa. Em um texto anterior, ouvi de minha filha mais velha: “falando assim, vai parecer que só você fica com o trabalho duro… Papai tem cuidado do lixo e da cozinha”. Verdade Lalá, fica registrado então. Mas voltando ao raciocínio, as tarefas donas dos dias são o extra, vocês sabem, deve ser parecido por aí também. Para além delas, há os analisandos, a manutenção – varrer, forrar, passar um paninho, dobrar guardar – o dormir, acordar, comer, tomar banho.

Parece tanta coisa, e ainda assim é tão vazio.

Os dias têm passado lento. A impressão que eu tenho é a de que, a qualquer momento, o sino da igreja vai bater seis da tarde. Mas quase todos os dias, quando essa impressão me visita, olho no relógio da cozinha e são ainda duas, duas e meia. Eu penso que atrasei a sessão das nove e olho no telefone assustada, são quatro da manhã. Eu tomo banho correndo, para não atrapalhar o almoço das meninas, e me dou conta de que já tinha tomado banho quando acordei. Houve também aquele dia em que esqueci do chuveiro. Verdade Roberta, fica registrado então. Mas voltando ao raciocínio, as horas donas dos dias são o extra, vocês sabem, deve ser parecido por aí também. Para além delas, há o susto de manutenção – já é dia de faxina de novo? Já tem que escrever outra coluna? – o dormir, acordar, não saber, não saber.

Parece tão vazio, e ainda assim é tanta coisa.

Às segundas, terças, quartas, quintas, sextas, sábados e até mesmo aos domingos, há de cuidar do corpo, da consciência – corre aqui Freud –, dos textos, do pai, das filhas e da mãe, da casa, do lixo, da dureza da vida, do essencial e do extra. Há de deixar o cuidado se for preciso, há de assumir o ‘passar o paninho’. Para depois voltar, olhar para o passado e o passar lento, ainda que rapidinho. Deixar atrasar ouvindo o sino da igreja. Entrar no banho só pra ouvir a água cair, duas, três, quatro vezes se for preciso. Deixar cair. Nem precisava registrar. Vocês sabem, deve estar parecido por aí também.

É vazio e é mesmo muita coisa.

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