ALEXANDRE ELMI
PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – Familiares, amigos e políticos de expressão regional estiveram no velório do advogado trabalhista Carlos Araújo, ex-marido da presidente Dilma Rousseff, morto na madrugada deste sábado (12) em Porto Alegre, aos 79 anos.
Araújo não resistiu a complicações pulmonares e morreu à 0h01, na UTI do Hospital São Francisco, no Complexo Hospitalar da Santa Casa de Porto Alegre.
O velório teve início às 15h na Assembleia Legislativa gaúcha e foi aberto ao público pouco depois para que os parentes mais próximos tivessem contato reservado com o corpo do político.
A ex-presidente Dilma intercalou momentos ao lado do caixão e em um espaço restrito, com acesso ao salão Julio de Castilhos da Assembleia. Ela voltava ao saguão para receber os cumprimentos de amigos, familiares e políticos. Até a publicação desta reportagem, ela não havia conversado com a imprensa sobre a morte do ex-companheiro.
A petista ficou em pé, boa parte do tempo, na companhia da filha que teve com Araújo, a promotora do trabalho Paula Rousseff de Araújo, e do genro, Rafael Covolo.
Colega de ministério no governo Lula, Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul (2011-2014) pelo PT e ex-ministro da Justiça, chegou por volta das 16h50. Abraçou a ex-presidente e conversaram brevemente.
Na saída, abatido, Tarso lamentou a perda do amigo. Sublinhou o passado de luta pela democracia do político morto. “A gente está em uma idade de perder as nossas melhores referências”, disse Genro.
O tom de perda de um amigo também caracterizou as palavras do ex-governador Olívio Dutra (PT), para quem Araújo exercia uma liderança que chamou de “franca e fraterna”.
Dutra lembrou o envolvimento do político nos movimentos sociais e sindicais na década de 1980 e o trabalho de Araújo como deputado estadual por três mandatos. “Era daqueles militantes que não vacila, na luta pelos direitos do trabalhador”, ressaltou Dutra.
Para o ex-deputado federal e um dos líderes do PDT no Rio Grande do Sul Carlos Eduardo Vieira da Cunha, Araújo tinha como marca a capacidade de diálogo.
“Ele era um trabalhista, mas tinha relação com todas as forças de esquerda”, afirmou Vieira da Cunha ao chegar ao velório.
Em nota, o governador José Ivo Sartori (PMDB-RS) afirmou que Araújo “se destacava pelo espírito democrático, se relacionando de forma fraternal e sempre respeitando posições diversas”.
TRAJETÓRIA
Nascido em São Francisco de Paula, RS, em 1938, Carlos Franklin Paixão de Araújo era filho do também advogado trabalhista Afrânio Araújo, de quem herdou o gosto pelo direito e pela política.
Na década de 1950, ingressou na Juventude Comunista e integrou a delegação brasileira para o Festival da Juventude de Moscou em 1957. Anos mais tarde, integrou a organização guerrilheira VAR-Palmares, na qual em 1969 conheceu a futura mulher, Dilma Rousseff, com quem viveu até 2000 e depois seguiu como amigo.
Max, codinome pelo qual era conhecido nos tempos de luta armada, foi preso pela ditadura militar em julho de 1970, meses após a captura de Dilma. Ele deixou a cadeia em 1974, mesmo ano em que perdeu o pai e assumiu o escritório de advocacia que existe até hoje na capital gaúcha.
Na carreira política, era ligado a Leonel Brizola e foi um dos fundadores do PDT, partido pelo qual se elegeu deputado estadual por três vezes e chegou a disputar a Prefeitura de Porto Alegre, em 1988 -na época, perdeu a eleição para Olívio Dutra, que inaugurou a série de quatro gestões seguidas na cidade sob comando do PT.
Em 2000, junto com Dilma e outros correligionários, Araújo deixou o PDT e passou a se dedicar a o escritório que mantém na capital gaúcha.
Mesmo afastado da vida política, Carlos Araújo não deixou de opinar sobre assuntos políticos contemporâneos. Sobre o processo que levou ao impeachment da amiga e ex-mulher da Presidência, Araújo considerava que houve um “golpe” e que Dilma foi abandonada pelo PT.