Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que o Brasil perde cerca de R$ 200 bilhões (bilhões!) por ano para a corrupção. São números de assustar qualquer cidadão comum que se sente assaltado ao comprar os produtos mais básicos do seu dia-a-dia e ao saber o quanto paga de impostos embutidos nos preços desses mesmos produtos.
Mas é ainda mais assustador quando nos damos conta do quanto a corrupção está presente nas ações aparentemente corriqueiras do cotidiano de cada pessoa, a ponto de nem a percebermos mais. Ficamos escandalizados ao ver licitações fraudulentas no serviço público, mas quantos de nós não fazemos parte do jogo quando vemos com naturalidade casos como:
– uma empresa fazendo falsas cotações de preços para contratar um serviço (Você consegue apresentar mais dois orçamentos mais caros que o seu?);
– fornecedores oferecendo comissões por fora para serem escolhidos em determinadas negociações;
– empresas buscando novos orçamentos, sem intenção de mudar de fornecedor, apenas para forçar seu próprio fornecedor a baixar o preço;
– empresas e profissionais prostituindo o mercado, oferecendo de graça ou por preços vis produtos ou serviços, visando vantagens escusas e prejudicando todo o mercado…
Isso tudo sem falar nas atitudes pessoais, como subornar policiais, comprar recibos para abater no Imposto de Renda, falsificar assinaturas, mentir buscando vantagens. Enfim, é duro ver que, por mais que fiquemos indignados ao ver as relações promíscuas envolvendo a esfera pública com a particular, as negociações espúrias também ocorrem entre pessoas comuns, aquelas que vemos pelos corredores, nos dão bom dia, almoçam ao nosso lado – ou somos nós mesmos, quantas vezes…
Em um cenário assim, o que deveria ser normal acaba virando notícia, como os casos de pessoas anônimas que encontram boladas de dinheiro e devolvem. Ora, errado seria ficar com o dinheiro alheio! Ninguém deveria ser considerado herói ou pessoa exemplar apenas por ser honesto – posto que todos deveriam ser.
Quanto tempo será necessário para que se reverta essa característica tão endêmica de nossa cultura? Confesso meu otimismo inveterado e acredito que, aos poucos, estamos melhorando. Mas, como diz Lenine na música Paciência: Será que temos esse tempo pra perder?