ANAÏS FERNANDES

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em dia marcado pela maior intervenção do Banco Central no mercado de câmbio, o dólar se desvalorizou ante o real nesta segunda-feira (21), mas especialistas apontam que o alívio temporário não significa que haverá um movimento contínuo de queda da moeda americana.

O dólar comercial fechou em baixa de 1,36%, cotado a R$ 3,688. O dólar à vista recuou 0,9%, para R$ 3,71. 

Descolada do exterior, a Bolsa brasileira também caiu: o Ibovespa, índice que reúne as ações com maior liquidez, perdeu 1,52%, a 81.815 pontos. O giro financeiro foi de cerca de R$ 20 bilhões.

Na sexta-feira (18), o BC anunciou que ofertaria nesta segunda 15 mil contratos adicionais de swap cambial no leilão realizado entre 9h30 e 9h40, totalizando US$ 2 bilhões. A operação equivale à venda de dólares no mercado futuro. 

Até então, o BC fazia leilões diários de 5.000 contratos. 

A autoridade monetária já vinha realizando a chamada rolagem cambial, em que renova operações antigas na tentativa de evitar um aumento ainda maior da demanda por dólar. Nesta segunda, o BC vendeu todos os 4.225 contratos de swap tradicionais que vencem em junho, somando US$ 5,6 bilhões.

“O mercado parece estar respeitando tanto a intervenção do BC quanto a indicação que ele deu de que poderia atuar ao longo do dia se necessário”, diz Cleber Alessie, da corretora HCommcor.

Nos últimos seis pregões, a moeda americana registrou valorização de 5,5% sobre o real, com a percepção no exterior de que os Estados Unidos podem elevar o juros mais vezes do que o esperado inicialmente. O movimento geraria uma fuga de dólares hoje aplicados em países considerados mais arriscados, como o Brasil, para o mercado americano.

O dólar avançou ante 16 das 31 principais divisas globais. Mercados emergentes lideraram ganhos de moedas locais: o peso colombiano teve alta de 1,65%, enquanto o rublo russo subiu 1,07%, e o peso argentino, 0,74%.

Apesar da atuação mais firme do BC, a trajetória de alta da moeda americana não deve se alterar no longo prazo. Isso porque pesa também, no cenário nacional, incertezas a respeito das eleições de outubro.

“O mercado respeitar o anúncio do BC não quer dizer que o dólar vai começar a despencar”, afirma  Alessie.

Economistas ouvidas pela pesquisa Focus, do Banco Central, divulgada nesta segunda, elevaram pela quinta vez seguida a previsão para o dólar neste ano. O levantamento do BC mostra agora que eles veem a moeda americana a R$ 3,43 no fim de 2018 e a R$ 3,45 em 2019, ante R$ 3,40 antes para ambos os anos.

Mais cedo nesta segunda, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, afirmou que o Tesouro também pode atuar em conjunto com o BC para trazer mais equilíbrio ao mercado, se necessário, apesar de reconhecer que o movimento de alta do dólar é global e não poderá ser contido pelo governo.