NOVA YORK, EUA, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar voltou a bater máximas em 2018 e fechou nesta quinta-feira (23) cotado a R$ 4,12, o que faz analistas já preverem um cenário em que o impacto na inflação forçará o Banco Central a elevar a taxa de juros Selic após as eleições, e não apenas em 2019, como imaginado anteriormente.

No sentido contrário, a Bolsa brasileira, que oscilava entre leves altas e baixas no início dos negócios, consolidou-se no campo negativo.

O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas por aqui, caiu 1,65%, a 75.633 pontos.

Nesta sessão, a ameaça de uma escalada na disputa comercial entre Estados Unidos e China e o dia negativo para commodities interromperam a recuperação que se esboçava no mercado brasileiro e levaram a moeda americana à sétima alta seguida e ao maior nível desde 21 de janeiro de 2016.

Ao fator externo, somam-se as incertezas eleitorais, o que faz com que analistas descartem uma queda da moeda americana abaixo de R$ 4 no curto prazo e já comecem a calcular o impacto da valorização do dólar sobre a inflação.

No dia a dia, a alta do dólar já deve chegar ao bolso do consumidor. Pão francês, macarrão, produtos de limpeza, a gasolina, os itens eletrônicos e até mercadorias vindas da China ficarão mais caros.

Marcelo Kfoury, professor de economia da FGV (Faculdade Getulio Vargas), explica que cerca de 10% dos produtos da cesta básica contém matéria-prima cotada no mercado internacional. "Arroz, feijão e petróleo, por exemplo, fazem parte das negociações no exterior", afirma.

Para ele, a situação é complicada, considerando que só agora a inflação está se recuperando da paralisação dos caminhoneiros. "Com essa disparada do dólar, não haverá fôlego. Os preços vão continuar subindo durante os próximos meses", diz.

De acordo com Claudio Zanão, presidente da Abimapi (associação das indústrias de biscoitos, massas e pães), produtos que têm o trigo como matéria-prima são os que mais sentirão o impacto. "Metade do consumo do cereal no Brasil depende da produção de outros países, como a Argentina e o Canadá", explica.

Para André Perfeito, economista-chefe da Spinelli Corretora, o atual patamar do dólar veio para ficar. "Não há mais boas notícias no curto prazo, o que sugere um dólar acima de R$ 4 por um bom tempo", afirma.

No cenário traçado por ele, a alta do dólar vai impactar os preços e ameaça levar a inflação para cima do teto da meta estabelecida pelo governo, de 4,5% ao ano. No acumulado do ano até julho, o IPCA (índice oficial de preços) avançava 2,94%. Mas, em 12 meses, a alta já está em 4,48%.

"O dólar vai bater na inflação. Eu vejo um IGP-M [índice de preços usado como base para reajuste dos principais contratos de locação] em 8% ao ano, em parte pelo câmbio também", afirma.

Segundo ele, a aceleração da moeda americana tende a forçar o Banco Central a aumentar os juros na reunião logo após o segundo turno das eleições, nos dias 30 e 31 de outubro.

Hoje, a Selic está em 6,5% ao ano, e o Boletim Focus, que reúne estimativas de economistas e casas ouvidos pelo Banco Central, estima que a taxa se mantenha nesse patamar no fim do ano.

Nesta sessão, o exterior voltou a pressionar a moeda americana, com a intensificação no conflito entre Estados Unidos e China. Nesta quinta, entraram em vigor tarifas de 25% sobre US$ 16 bilhões de artigos importados do país asiático, que retaliou impondo novas tarifas de 25% em cima de US$ 16 bilhões de produtos americanos.

A notícia aumentou a aversão a risco no mundo. Todas as 31 principais divisas globais perderam força em relação à moeda americana.

A ameaça de um processo de impeachment contra o presidente Donald Trump também elevou a preocupação dos investidores em todo mundo.