SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em seu primeiro discurso como governador eleito, na noite deste domingo (28), o ex-prefeito João Doria (PSDB) afirmou que sua eleição mudará a correlação de forças no PSDB e que São Paulo vai liderar o que vem sendo visto como refundação do partido.

"A partir de 1º de janeiro, no PSDB, no meu PSDB, […] acabou o muro. Não tem mais muro", disse ele a apoiadores reunidos no Club Homs, na avenida Paulista.

Segundo o tucano, os prefeitos e outros integrantes da sigla "querem um partido com lado, com posição". O "novo PSDB", disse, será "um partido que tem lado, que está ao lado do Brasil, o Brasil de hoje e o de amanhã".

Doria foi eleito no segundo turno, em disputa apertada contra Márcio França (PSB). Ele terminou com 51,7%, ante 48,2% do adversário, que é o atual governador.

O discurso foi salpicado de acenos e referências ao presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), a quem Doria se alinhou publicamente no segundo turno, com a pregação do voto "BolsoDoria" no estado.

Nos bastidores do PSDB, a ascensão do novo governador paulista é vista como o início de uma nova fase da legenda, hoje presidida pelo padrinho político dele, Geraldo Alckmin -ex-governador derrotado no primeiro turno da eleição presidencial.

"Logicamente que a correlação de forças [no partido] muda. É da política. Não é o meu desejo. É o desejo da população", disse Doria. "Eu respeito o PSDB. Respeito a história, os líderes. São Paulo vai liderar esse processo [de ajuste da legenda]."

Ele também afirmou que lideranças importantes do partido, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o próprio Alckmin, não haviam ligado para dar os parabéns pela vitória até as 21h deste domingo.

O futuro governador deixou claro que será aliado de Bolsonaro, com quem conversou pelo telefone após a vitória. Doria falou que viajará nesta semana ao Rio para falar pessoalmente com o capitão reformado.

"Agradeci e dei os votos de um bom governo ao Jair Bolsonaro. E vamos definir com clareza um governo de coalizão, de união e de pacificação", afirmou, acrescentando ter convicção de que o eleito para o Planalto "será o presidente que irá pacificar o Brasil".

Em discurso de unificação semelhante ao do deputado federal, apregoou a necessidade de um governo de unificação nacional e disse que fará o mesmo no estado.

"Nós temos que pacificar o Brasil. Não podemos de forma alguma iniciar o ano com o Brasil dividido. Vamos governar para todos os brasileiros de São Paulo. Todos são absolutamente iguais e serão tratados da mesma maneira, com a mesma dedicação e esforço do nosso governo", discursou.

"Nós estaremos apoiando o governo Bolsonaro, sim. Estaremos apoiando a política liberal de Paulo Guedes [futuro ministro da área econômica], sim. Enquanto estiverem dentro dessa linha, estaremos apoiando", disse Doria, defendendo que o PSDB seja aliado do futuro governo.

O candidato eleito afirmou ter recebido ligações de Márcio França e de Paulo Skaf (MDB), o que considerou um gesto de grandeza dos adversários na eleição. "Política se faz com grandeza, não é com ódio, é somando forças."

Questionado sobre uma eventual participação de Alckmin em seu governo, respondeu que o ex-governador tem "todas as credenciais" para ocupar uma secretaria em sua gestão, mas não avançou no tema. Na campanha, Doria buscou se descolar do padrinho impopular e surfou na onda Bolsonaro.

O tucano concedeu entrevista ao lado de seu vice, o deputado federal Rodrigo Garcia (DEM-SP), e do prefeito Bruno Covas (PSDB), que herdou a cadeira com a renúncia de Doria para disputar o Palácio dos Bandeirantes. Na plateia, correligionários gritavam "fora PT" e "é campeão".

O vitorioso agradeceu a aliados e à família. Dedicou carinho especial à mulher, a artista plástica Bia Doria, e mencionou com ênfase a participação em sua campanha da deputada federal eleita Joice Hasselmann (PSL-SP), que é próxima de Bolsonaro.

"Para nós todos que estamos aqui, não tem bandeira vermelha, só tem bandeira verde e amarela", disse, estendendo uma bandeira do Brasil no palco ao posar para as câmeras.

O futuro governador afirmou que, "sinceramente", ainda não pensou na primeira medida concreta que tomará quando assumir o posto.

"A primeira ação será uma oração, para proteger São Paulo e proteger o Brasil", respondeu aos jornalistas. "Vamos começar com uma boa oração para pedir paz para o Brasil."