SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A fachada do convento São Francisco, no centro de São Paulo, amanheceu pintada nesta quarta (25) sem autorização dos frades que administram o local. 

Segundo o guardião do convento, frei Luiz Mário Tagliari, não se sabe quem é o responsável pela pintura.

O prédio, da década de 1940, é tombado e não pode ser reformado sem autorização prévia dos órgãos gestores do patrimônio histórico estadual e municipal. 

Os dois primeiros dos sete andares foram pintados com tinta bege. Grades, janelas, placas e portas de madeira também foram manchadas de tinta. A pintura está borrada e não cobriu completamente as pichações na fachada.

Câmeras de segurança de um estacionamento em frente gravaram dois homens pintando o convento com mangueiras. A ação ocorreu na madrugada, por volta da 1h30.

De acordo com funcionários do edifício-garagem, um caminhão chegou ao local na noite de terça (24), entre 20h e 21h30, para evitar que carros estacionassem na rua. Moradores de um edifício ao lado confirmaram a informação. 

Uma mulher que trabalha em uma lanchonete em frente disse que os ocupantes do caminhão vestiam uniformes laranja, cor utilizada por funcionários da prefeitura. Ela não quis se identificar. 

A Prefeitura de São Paulo, comandada por Bruno Covas (PSDB), informou que não realizou a pintura e que, como se trata de um prédio privado, a responsabilidade pelo restauro é de seus administradores. 

Afirmou ainda que, anteriormente ao caso, havia sido feita uma solicitação ao Conpresp (órgão que gere o patrimônio histórico municipal) para que a fachada fosse limpa com água, mas que ainda não houve retorno do conselho.

REFORMA

"A parte de baixo do convento tinha bastante pichação, mas é oneroso reformar. É um caro projeto de restauro. Não é só pintar", disse Tagliari, frei guardião do convento.

Segundo ele, o então prefeito João Doria (PSDB) esteve no convento no ano passado para conhecer as obras sociais do local e teria prometido angariar fundos, junto à iniciativa privada, para restaurar devidamente a fachada do convento. O projeto, disse o frei, não foi para a frente.

Tagliari afirmou ainda que foi registrado um boletim de ocorrência para evitar que o convento fosse responsabilizado pela ação. "Fomos pegos de surpresa. Precisamos nos proteger, porque é um prédio tombado", disse.

Em nota, o Condephaat (que gere o patrimônio histórico estadual) afirmou que qualquer intervenção no local deve ser autorizado pelo órgão para evitar descaracterização e que a única ação liberada pelo conselho foi a remoção de uma pichação no edifício nos fundos da igreja, a ser feita com jato de água, não com tinta.

O texto diz ainda que será feita uma vistoria para analisar os danos provocados pela pintura irregular e verificar se eles podem ser revertidos. Caso não seja apresentada uma proposta de reparação em até 15 dias, os responsáveis poderão ser multados.

Com 370 anos, a igreja de São Francisco, ao lado do convento, foi restaurada em 2017. O edifício foi inaugurado em setembro de 1647. 

De acordo com Tagliari, foi quase um ano de processo burocrático junto ao Condephaat para que a obra de revitalização fosse liberada.