Franklin de Freitas – Voz Cartonera ju00e1 lanu00e7ou quatro livros desde agosto de 2017

O ano é 2003. O local, a Argentina, um pais então devastado econômica e socialmente. Diante do fechamendo de fábricas, colapso dos bancos e a explosão da pobreza, os chamados ‘cartoneros’ (catadores de papelão) se multiplicam pelas ruas. Nos cafés, jovens escritores sonham com uma oportunidade no mercado editorial, cujas portas parecem permantemente fechadas.
Foi nesse cenário de crise em que surgiu o movimento cartonero, no qual jovens escritores compram o material dos catadores para criar seus livros com capas de papelão, barateando o custo da obra e facilitando o acesso à cultura. 
Mais de uma década depois, é o Brasil que está em crise. E em Curitiba, esse mesmo movimento (que já conquistou grande parte da América Latina) começa a ganhar força.
Fundada em agosto do ano passado por Andréa Carneiro Lobo, a Editora Voz Cartonera já lançou quatro livros, o último deles no último domingo, na Feira do Poeta, chamado “Rebeldia sem prosa”.
A obra é de autoria do poetiguar Jefferson Moisés Santos da Silva, mas fruto do trabalho de muito mais gente: pelo menos 12 pessoas participaram da construção do livro, entre elas o designer Marcelo Barbosa (responsável pela diagramação), a ilustradora Joanna Oj (que assim como Marcelo é de Caruaru, em Pernambuco) e outros que ajudaram na montagem dos livros e pintura das capas, feitas em papelão.
“Somos sonhadores. Acreditamos que vamos mudar o mundo pela margem, pelas beiradas. O principal é o movimento, a dinâmica, com todos colaborando com o pouco que sabem fazer”, afirma Andréa, destacando que a ideia é promover a sustentabilidade e, ao mesmo tempo, baratear o custo de produção de um livro, de forma a tornar a cultura mais acessível ao grande público.
“Não visamos lucro, só queremos divulgar pessoas que tenham algo a dizer”, aponta Andréa, explicando ainda que cada livro que a editora vende serve para custear o próximo a ser lançado. “Somos um movimento independente, para promover os autores”, complementa.

A cada obra, uma luta que inclui até a coleta de papelão
Para que os livros de papelão ganhem vida, contudo, é preciso muito trabalho. Primeiro, seleciona-se um autor, uma temática, uma história. A partir daí, os colaboradores (hoje são seis pessoas atuando de forma mais constante na editora) começam a coleta de papelões, que serão pintados em mutirões realizados em escolas públicas, feiras livres e lar de idosos, entre outros. Por isso, cada capa de um livro cartonero será sempre única.
Jefferson Moisés, o poetiguar, conta ter conhecido o movimento num show do músico Plá, realizado no Teatro Universitário de Curitiba (TUC). Ali, a Voz Cartonera montou uma pequena barraca para divulgar o seu primeiro livro, que trazia justamente os textos do artista de rua mais famoso de Curitiba.
“Quando eu vi, não acreditei que era real. Existia algo e não sabia o quê. Aí comecei a ir atrás, pesquisar, e quanto mais eu lia, mais gostava”, conta ele, que não demorou a decidir publicar dessa maneira alternativa seu primeiro livro de poesia. 

SERVIÇO
Editora Voz Cartonera

O que é: uma editora independente, fruto de trabalho coletivo, que cria livros com capas de papelão, pintados a mão. A ideia é baratear o custo das obras e ajudar a difundir a cultura e o trabalho de artistas locais.
Valor dos livros: De R$ 10 a R$ 15
Como comprar: entrar em contato via e-mail ou mandar mensagem pela página do Facebook. Além do custo do livro, o interessado também deve arcar com os custos para postagem da obra.
Página no Facebook: https://www.facebook.com/Voz-Cartonera-131341647480233/
E-mail: [email protected]