Aberta ao público a partir de 1º de dezembro, a exposição “Eixos da Fotografia” mostra obras de 16 fotógrafos na Sala do Acervo do Museu da Fotografia Cidade de Curitiba (R. Presidente Carlos Cavalcanti, 533  fone 41-3321-3334), com minha curadoria.



  Para Henri Cartier-Bresson a foto bem feita era “o encontro do instante com a geometria”. Daí que, o primeiro critério desta exposição foi que as fotografias destacassem linhas da sintaxe da linguagem visual.



  Entendidas como eixos da fotografia, estas linhas ordenam os principais elementos registrados pela câmera e, conseqüentemente, toda a composição da imagem fotografada. Tanto no enquadramento, quanto na centralização ou por meio das linhas da perspectiva, os eixos são claramente visíveis, algumas vezes, atravessando as fotografias de um lado a outro, como nos trabalhos centralizados Claudia Jaguaribe e Evandro Teixeira, expostos na mostra.
  Nos trabalhos de Ricardo Teles, Nelson Toledo e Tiago Santana, ao contrário, eles aparecem meio diluídos.
  Intimamente relacionados à apreensão dos sentimentos e ambiente, os eixos são referências para a leitura do “clima” da fotografia.  Esta leitura, que depende destas linhas, é feita de modo quase automático pelo espectador ao olhar a fotografia e, também, pelo fotógrafo quando captura o “instantâneo”.



  O que não significa que alguns profissionais da fotografia não trabalhem com fotos e ambientes compostos, caso da montagem em negativo de Beatriz Dantas e das folhagens cenográficas de Cristiano Mascaro. E, noutra vertente, a seriação no cinema da mata que Walter Carvalho aproveitou para clicar, com destaque nas diagonais.
  Dentre as mais de 1.400 fotografias do acervo da Fundação Cultural de Curitiba, outro parâmetro desta seleção foi “a fotografia por ela mesma”, significando que, além dos eixos, a resolução fotográfica deveria conter “studium” e “punctum”, segundo Roland Barthes. 



  Importante dizer que cada fotografia, enquanto fruto de pesquisa que envolveu todo o acervo, foi selecionada individualmente, sem a preocupação de formar um conjunto, a não ser pelos eixos.
  O interessante é que, pinçadas aqui e ali, as fotos se organizaram em composições instigantes, resultado direto de como as próprias imagens fotográficas se relacionam umas às outras. Analisando que o fator aglutinante foram os eixos, se comprova analogias preexistentes à seleção que foram, então, enfatizadas por estas linhas inerentes às fotos.
  Por outro lado, à medida que os pares se concretizavam, houve incremento de leitura e/ou de interpretação, pois esta forma de apresentação acentua significativamente as funções simbólicas das imagens fotográficas, revelando pontos de percepção e intercâmbios referenciais.
  Cada foto, portadora de uma realidade própria, não somente duplica-se na que lhe é parceira, mas se multiplica em infinitas interpretações, de acordo com o repertório existencial de quem as observa.



  Isto pode ser visto em todas as fotos, tais como nas de Sebastião Salgado e Améris Paogini, as quais – colocadas perto e funcionando como contrapontos – levantam uma série de questionamentos. Entre eles: a multidão desumana reduzida a pontos pela câmera de Salgado e na foto de Améris, a pintura ilusionista do teto em “trompe l’oeil” que simula elementos arquitetônicos, com objetivo de alterar intencionalmente a percepção de quem olha. Ambos individualmente focalizam a ilusão, entre outras possíveis leituras que agora se somam ou se cruzam.
  Os trabalhos de Boris Kossoy e Bob Wolfenson enfatizam os eixos diagonais, reconhecidamente linhas de tensão e instabilidade.



  As fotos de César Barreto e de Vilma Slomp se complementam nas curvas geométricas.  Uma é paisagem e a outra é interior; entretanto, elas conversam no território do estranhamento, do tempo congelado nas fotos e do tempo necessário para decifrar a simplicidade-complexa de seus temas.



  A foto de trens, de Haruo Ohara, soma-se na imobilidade e quietude à das pessoas tirada por João Urban. Os fotógrafos exploram a qualidade do “stillness” que tem ressonância na pintura silenciosa e “fotográfica” de Edward Hopper, evidenciando a integração das artes visuais hoje em dia.