O brasileiro, tradicionalmente, é um fã de novelas. Quantas e quantas vezes o país não parou para ver o desfecho de um folhetim, revelando o misterioso assassinato de um importante personagem. Ou o casamento de quem, desde o primeiro capítulo, lutava para ficar junto. Não sou consumidor desse tipo de entretenimento. De verdade, pode acreditar, não sou. Mas admiro como a dramaturgia da TV aberta segue presente nas nossas vidas.
Ao longo de oito, nove, 10 meses, a história tem seu começo, meio e fim. E, logo, outra vem para preencher as noites de quem chega em casa após um dia cheio de trabalho. Um aspecto curioso nesse processo é estratégia das emissoras em não perder a audiência cativa da novela anterior e aproveitá-la no novo produto que em breve entrará no ar.
Para isso, os canais lançam durante cerca de 10 dias pequenos vídeos apresentando os personagens, as características iniciais de cada um, o enredo, os embates que a trama deve apresentar. É uma forma de fisgar o telespectador, mostrando que o que vem por aí é muito bom e que ele não pode perder. É assim que acontece.
Mas você – amigo leitor que acompanha meus artigos – deve estar se perguntando: que raios de texto é este do Uranio? Explico. Estamos a poucos dias do início do horário eleitoral na televisão e rádio. É nesse espaço que os personagens, os candidatos, irão expor suas propostas, ideias e planos para conduzir o Brasil nos próximos quatro anos. Como numa novela, eles querem nossa audiência, nossa atenção.
Mas cuidado, não devemos esquecer que o Brasil é resultado de nossas escolhas e decisões. Sermos um país melhor está, em grande parte, nas nossas mãos! É certo que não podemos voltar no tempo e apagar o que fizemos que nos levou à situação em que estamos. Mas podemos melhorar o futuro e temos esse poder. Outro alerta é: não se deixem levar pelas emoções. Façam o uso da razão e reflitam sobre as propostas que serão sugeridas pelos candidatos, desvendando quais interesses estão por trás de seus discursos – são interesses do país ou individuais, ou de grupos? São discursos absolutamente vazios com propostas de feitos inatingíveis ou são factíveis?
Em breve, veremos na TV trechos de cenas dramáticas musicais, intrigas, troca de acusações e muito suspense. Falando assim, até pode parecer um programa interessante, não é? Mas está longe de ser. Apesar disso, é muito importante que você deixe um pouco as séries preferidas para acompanhar o que os postulantes ao cargo de presidente têm a dizer. É difícil, eu sei. É até indigesto. Mas é necessário.
Faça um esforço e tente identificar nas propostas apresentadas quais delas mais bem te representa. Mesmo que o personagem não seja o seu favorito, quem ali tem um conjunto de qualidades que mereça o seu voto e a sua confiança. Nesse caso, coloque no papel. Destaque quais os pontos fortes e fracos de cada um dos candidatos e, a partir dos seus valores e daquilo que você acredita, tome a decisão. Vá por eliminação.
Esse exercício é fundamental para que possamos exercer de maneira mais consciente o poder de voto e fazer valer nossas escolhas. Não podemos desistir e achar que nada mudará, por pior que sejam os personagens. Afinal, se pensarmos dessa forma, viveremos sempre dentro de um enredo de novelas. E das mexicanas.

Uranio Bonoldi é consultor, palestrante e oferece aconselhamento personalizado para empresários e executivos