Ernani Ogata – Na pandemia

Agosto é o mês do voluntariado. E diante da pandemia do novo coronavírus, a atividade teve de se reinventar para que pudesse continuar levando algum conforto àqueles que estão internados em hospitais de Curitiba. Um exemplo são os hospitais Universitário Cajuru e Marcelino Champagnat, que com a ajuda de um robô, chamado de Robios, tem feito a conexão entre pacientes e voluntários e também entre pacientes e seus familiares, adequando-se às restrições impostas pela crise sanitária.

Membro da pastoral dos dois hospitais, Sidnei Evangelista conta que, antes da pandemia, 287 voluntários atuavam presencialmente realizando uma série de atividades. Havia grupo de palhaços, dobraduras, acompanhamento solidário, acolhimento espiritual… Com a pandemia, porém, todas as atividades com voluntários, que aconteciam diariamente, tiveram de ser suspensas.

Ainda em março, numa parceria da PUCPR com a Human Robotics, um robô foi entregue aos hospitais, com a intenção de possibilitar a visita familiar à distância. Na medida em que a idéia foi se mostrando bem sucedida, a iniciativa foi sendo ampliada e agora também os voluntários retomaram as atividades com o auxílio do Robios.

“Reformulamos, reinventamos algumas atividades. Conectamos virtualmente o voluntário com o paciente, via internet, e aí fazemos música, palhaçaria…”, conta Sidney, revelando ainda que a iniciativa tem sido um sucesso. “Pensávamos que seria um pouco difícil fazer essa conexão mais próxima, mais humana, mas o Robios cativou os corações dos pacientes, dos voluntários, das famílias e das equipes. É a tecnologia sendo usada como ferramenta de humanização”, complementa.

Uma das voluntárias que já está atuando com a ajuda do Robios é Letícia Witzki Morona, fundadora do projeto Semeando Amor. Ela conta que, assim que recebeu o convite dos hospitais para trabalhar com as vídeo-chamadas, topou o desafio, que já tinha muito a ver com as outras iniciativas que o projeto vinha desenvolvendo em meio à pandemia.

“O Cajuru nos convidou e na hora já topei. Nada vai suprir o presencial, mas vamos nos virar com o que temos no momento. Passamos por uma ala, um funcionário vai guiando o robô e interagimos com pacientes, colaboradores… As primeira visitas foram bem impactantes, porque eles não esperavam. Vimos que conseguimos atingir as pessoas, levar alegria, levar amor, conforto e carinho. Levar esse abraço, que não é físico, mas na alma.”

‘Queria ser a visita daqueles que não recebem visitas’
A ideia de criar o projeto Semeando o Amor, conta Letícia Morona, surgiu ainda em 2012. Na época, o avô dela estava com câncer, internado num hospital. Letícia tinha apenas 16 anos, mas ficou marcada ao notar que o outro paciente, que dividia o quarto com seu avô, quase não recebia visitar.

“Queria ser a visita de quem não tinha visita. E em maio de 2012 criei o Semeando, porque não queria atuar como palhaça só em hospital, mas também em Lar Infantil. Aí foi acontecendo”, recorda a voluntária. “Minha avó sempre foi de se dedicar às pessoas. Ela semeou o amor em mim e agora eu quero semear o amor nos outros”, complementa.

Antes de retomar as atividades no hospital, contudo, o Semeando chegou a ficar mais de um mês parado. No final de abril, quando notou que o retorno à normalidade não aconteceria tão cedo, ela resolveu inovar. “Comecei a ficar preocupada porque amo esse trabalho, fundei ele para espalhar amor e alegria.

Aí decidi: não vamos ficar sem fazer nada. Estamos em casa, mas conseguimos atingir as pessoas, a internet está aí para isso”.
Já em tempos de pandemia, a primeira ação do grupo foi o Plantonildo, no qual as pessoas pediam para que os palhaços do Semeando fizessem um vídeo para alguém. Em três meses foram quase 300 vídeos enviados.

“A reação foi muito boa, porque ninguém espera receber vídeo de palhaço no Whats e ainda tem aquilo de uma outra pessoa ter lembrado de você e pedido para fazer o vídeo para ela. Fizemos lives também, fomos para o YouTube, porque vimos que tinha muita criança em casa. Começamos a fazer contação de histórias, um jornal com notícias para a pessoa rir e está tendo um retorno bem legal.”