: Claudio Kbene/PT

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um dia após ser oficializado candidato do PT ao Planalto, Fernando Haddad ironizou os ataques de seus adversários e disse que os demais candidatos "estão com medo de um vice".

"Aconteceu de um vice assumir a cabeça de chapa. Eles estão com medo de um vice? Mas não é só um vice, é um projeto", afirmou o petista nesta quarta-feira (12), durante seu primeiro evento oficial de campanha, em São Paulo.

Com aval do ex-presidente Lula, Haddad foi ungido candidato somente na terça-feira (11), último dia do prazo que a Justiça Eleitoral deu ao PT para fazer a troca na chapa. Desde então, tornou-se alvo de oponentes na disputa, como Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede).

Herdeiros de parte do espólio eleitoral de Lula, Ciro e Marina criticaram o fato de Haddad ser apenas mais um indicado do ex-presidente, em referência a Dilma Rousseff, que sofreu impeachment em 2016 após um governo que terminou com baixíssima popularidade.

Aos jornalistas, Haddad disse estar acostumado a ser vidraça desde que entrou para a vida pública, há 18 anos, e que, portanto, não iria atacar ou responder a ninguém.

Aliados afirmam que a estratégia é pragmática: caso passe ao segundo turno, Haddad tentará construir um ambiente de conciliação entre os partidos, com o apelo de que é preciso unir o país contra uma espécie de mal maior, a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) –o capitão reformado hoje lidera com folga as pesquisas, com cerca de 25% em todos os cenários.

"Não queremos agredir ninguém, até porque a gente conta com apoio no segundo turno de muita gente que está do outro lado, porque a gente precisa reconstruir o país", disse o candidato.

Na sua estreia oficial de campanha, Haddad falou a uma plateia de estudantes beneficiários do ProUni, programa idealizado por ele e por sua mulher, Ana Estela.

Ali, parecia mais à vontade em seu discurso habitualmente professoral, fez piadas, ironias e disse que o PT não errou ao levar até o limite a candidatura de Lula.

"Não arriscamos nada. Ter ficado até o último segundo do lado de Lula não pode ser tido como um risco, um cálculo eleitoral ou uma coisa menor. É a democracia, a soberania popular que está em jogo", declarou.

No entanto, o próprio candidato e seu grupo mais próximo temiam que a tática de esticar a corda ao máximo prejudicasse sua campanha: Haddad foi lançado a apenas 26 dias do primeiro turno com a missão de conquistar o eleitor de Lula.

Segundo integrantes de sua equipe, o principal desafio do presidenciável é se tornar conhecido nos redutos eleitorais fiéis ao petismo e, principalmente, retomar eleitores que, com a indefinição da candidatura do PT, migraram para a órbita de Ciro Gomes.

Para isso, de saída, a campanha vai focar no Nordeste, onde Lula tem quase 60% do eleitorado. No sábado (15), Haddad viaja mais uma vez para um périplo na região.

MANUELA

Com carreira precoce em campanhas eleitorais, Manuela D'Ávila (PC do B) terá agora, como vice na chapa do PT, a disputa de maior visibilidade de sua carreira.

Antes de selar o acordo orquestrado por Lula, porém,Manuela oficializou sua candidatura à Presidência, o que desagradou a muitos petistas. Pela primeira vez desde 1989 o PC do B demonstrava intenção de desvincular-se do PT e ter candidato próprio.

Num congresso do PC do B, Lula tratou de apaziguar os ânimos. "É um direito legítimo [ser candidato]. Se não fosse a minha teimosia e a do PT, eu não teria chegado nunca à Presidência", afirmou em novembro do ano passado.

Manuela, por sua vez, manifestou diversas vezes que não se oporia a uma composição com o PT já no primeiro turno da disputa. "Nós nunca fomos e nunca seremos óbice à unidade de nosso campo político. Nós precisamos estar unidos para que interrompamos esse ciclo de destruição do Brasil."

Em 5 de agosto, quatro dias após a convenção que lançou Manuela no pleito para o Planalto, o PC do B firmou aliança com o PT e desistiu de ter um nome próprio na disputa.

Caso a chapa petista vença, será a primeira mulher a ocupar a Vice-Presidência. Em relação a Dilma Rousseff (PT), possui a vantagem de já ter disputado eleições e conhecer mais de perto os meandros do jogo político.

Nascida em Porto Alegre, Manuela iniciou cedo a carreira política. Em 2004, aos 23 anos, elegeu-se vereadora de sua cidade-natal. Em 2006 e 2010 venceu para o cargo de deputada federal com recorde de votos no Rio Grande do Sul.

Na Câmara relatou o Estatuto da Juventude e presidiu a Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Neste último posto, teve em 2011 um embate com Jair Bolsonaro, então deputado pelo PP, hoje candidato à Presidência pelo PSL.

Manuela pediu na ocasião que o PP indicasse outro deputado para a vaga de Bolsonaro. "Não podemos ter nesta comissão um deputado que não defenda os direitos humanos", disse ela. "Estou sofrendo preconceito heterossexual", reclamou Bolsonaro.

Manuela concorreu, sem sucesso, à Prefeitura de Porto Alegre em 2008 e 2012.

Em 2014, trocou Brasília pelo Rio Grande do Sul e elegeu-se deputada estadual com a maior votação no estado.

Dois anos depois, uma foto da deputada amamentando a filha na Assembleia Legislativa teve grande repercussão. "A política é masculina e machista, não tem espaço para as mulheres", escreveu.

Um dos símbolos de sua bandeira contra o preconceito é a frase estampada em suas camisetas: "Lute como uma garota".

Em junho deste ano, as interrupções a ela por parte dos entrevistadores do programa Roda Viva -ao menos 40, em contagem da Folha de S.Paulo- foram classificadas de machistas.

Sobre o tratamento às mulheres no meio político, declarou recentemente à Folha de S.Paulo: "Às vezes escuto um elogio fundamentado em preconceitos. É comum ouvir: 'Nossa, você me surpreendeu por saber falar sobre tal assunto'. Sempre respondo: achava que eu era a parlamentar mais votada do RS há quatro eleições por causa de meus olhos azuis? Eu não tenho os olhos azuis."