NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – Poucos compromissos oficiais aguardam o presidente Michel Temer em sua passagem a jato por Nova York -ele pisou na cidade às 19h45 deste domingo (23) e retorna a Brasília às 14h desta terça (25).

O principal deles é o discurso inaugural da 73ª Assembleia Geral da ONU, marcado para às 9h locais (10h de Brasília) desta terça. Com isso, Temer mantém a tradição brasileira de abrir os debates gerais da organização e começa a apagar as luzes do seu mandato.

Antes disso, nesta segunda (24), o único evento oficial do qual o presidente participa é de um almoço com empresários oferecido pela Câmara de Comércio dos Estados Unidos.

Na terça, antes de subir pela terceira vez ao púlpito da Assembleia Geral como presidente, Temer tem um encontro com o secretário-geral da organização, António Guterres.

Depois do discurso, a agenda do presidente inclui uma reunião com o presidente da Colômbia, Iván Duque. A seguir, às 11h, Temer participa de um encontro com líderes do Mercosul. Depois, retorna a Brasília.

Não se sabe exatamente o escopo do terceiro discurso do presidente na ONU, mas não deve fugir muito aos temas abordados na assembleia de 2017.

No ano passado, o presidente participou de um jantar com o americano Donald Trump, o então líder colombiano, Juan Manuel Santos, o panamenho Juan Carlos Varela, e a vice-presidente da Argentina, Gabriela Michetti.

No dia seguinte, o Temer que falou durante 20 minutos no púlpito no ano passado defendeu as “transformações modernizadoras” pelas quais o país passava e que haviam ajudado a superar a recessão.

Era também um presidente perante o qual pesavam duas denúncias sobre obstrução de justiça e participação em organização criminosa -ambas enterradas.

Na ocasião, o presidente afirmou ainda que o investidor estrangeiro não precisava se preocupar com o bom funcionamento das instituições do país.

“O investidor estrangeiro que vai para lá [Brasil], sabedor de que nós vivemos em uma democracia plena, que as instituições estão funcionando, vai com muito maior entusiasmo”, disse, em 2017.

Um ano depois, Temer volta ao palco maior da ONU com um país mergulhado em uma corrida eleitoral cujo desfecho é pouco claro aos estrangeiros.

O candidato Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas de intenção de voto, vem ganhando editoriais contrários em vários veículos de comunicação estrangeiros, que dizem, entre outras coisas, que ele é um risco à democracia brasileira. O mais recente deles veio da revista The Economist, que qualificou o presidenciável como uma “ameaça”.

Os estrangeiros aguardam o resultado eleitoral, que pode ter impacto sobre as perspectivas econômicas no longo prazo, em meio a uma atividade econômica mais fraca que a estimada no início do ano.

No discurso de 2016, o primeiro que fez como presidente, logo após o conturbado processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, Temer abordou, entre outros temas, a questão dos refugiados e migrantes.

“Refugiados e migrantes são, senhor o presidente, as mais das vezes, vítimas de violações de direitos humanos. São vítimas da pobreza, da guerra, da repressão política”, afirmou, na ocasião.

Dois anos depois, se decidir tocar no tópico, pode encontrar ouvidos menos acolhedores. O próprio presidente americano, que substitui Temer no púlpito, adotou uma política de imigração com diferenças marcantes em relação às administrações americanas que o precederam.

Em abril, o governo americano havia adotado uma política de tolerância zero que incluía a separação de famílias flagradas tentando entrar ilegalmente nos EUA pela fronteira com o México. Crianças foram afastadas dos pais e enviadas a muitos abrigos espalhados por território americano.

Mesmo depois do fim da política, em junho, muitos desses menores continuam longe dos pais.

Mas o tema imigração também é delicado para o próprio Brasil. Com a Venezuela sofrendo de uma grave crise humanitária, muitos venezuelanos tentaram fugir da fome, do desemprego e da pobreza buscando abrigo em território brasileiro.

Em Roraima, ocorreram casos de ataques e perseguições de grupos de brasileiros aos estrangeiros, forçando o governo a enviar efetivos da Força Nacional para restaurar a ordem no local.