A geração que entrou para o mercado de trabalho nos tempos de pleno emprego e economia estabilizada, conhecida como Geração Y, acostumou-se a não engolir sapos. Movidos a desafios, os profissionais que agora estão na casa dos 30 anos chegaram ao mundo do trabalho abafando, afinal, cresceram em meio ao rápido desenvolvimento tecnológico e, em geral, tiveram mais facilidades do que a geração anterior para estudar, fazer cursos superiores e pós-graduação, estudar outras línguas e mesmo viver um tempo fora do país.

Imagine o quanto era comum, até poucos anos atrás, uma pessoa nova chegar a uma empresa já tendo um currículo rico, falando várias línguas, dominando as novas tecnologias e rapidamente alcançar postos em que liderariam pessoas bem mais velhas e experientes. Foi um verdadeiro choque no mercado. Todo esse choque trouxe coisas ótimas, como a pressão pela inovação e a retirada forçada dos mais experientes de sua zona de conforto, já que eles precisaram se adaptar às novidades. Por outro lado, muitos desses jovens – hoje já trintões – tiveram um crescimento profissional muito rápido, sem precisar subir degrau por degrau. A autoestima elevada, em muitos casos, passou a dar lugar ao excesso de autoestima.

Essa turma talentosa e cheia de garra tomou um susto com a chegada da crise econômica. De uma hora para outra, percebeu que seu emprego não era tão seguro assim, que não havia outras vagas facilmente disponíveis, que já não era um profissional disputado no mercado, pois outros, igualmente competentes, também estavam na corda-bamba. O temperamento inquieto, que vinha sendo visto como uma excentricidade saudável, passou a ser um problema. Aquele pessoal que achava um tédio se envolver em projetos que durassem mais que seis meses, que achava que um ano era tempo para projetos de longo prazo, precisou passar a lutar por um mínimo de estabilidade – e isso inclui ceder mais, acatar mais pensamentos diferentes, engolir mais sapos.

Agora, que alguns sinais de recuperação já começam a aparecer, ainda que tímidos, torcemos para que, com a retomada do crescimento (que ainda parece tão longe, mas que precisamos acreditar que virá), volte também o espaço para questionamento e até rebeldia, que já estão fazendo falta.