TURIM, ITÁLIA (FOLHAPRESS) – Em torno dos séculos 14 e 15, as antigas rotas comerciais (rota da seda, rota das especiarias) ligavam diferentes pontos da Europa, especialmente da Itália, e do Oriente por um caminho de comércio que ajudou a dar forma ao primeiro capitalismo.

Hoje, um percurso que lembra essa peregrinação é feito por galeristas de diferentes países, seguindo o acirrado calendário de feiras de arte.

A concorrência entre as cidades não é pequena. Para sua 25ª edição, no início deste mês, a Artissima, em Turim, trabalhou para aumentar a relevância internacional e, ao mesmo tempo, manter-se como catalisadora do mercado italiano.

A multiplicação de eventos no calendário e a ascensão das grandes franquias Art Basel (Suíça-Miami-Hong Kong) e Frieze (Londres-Nova York-Los Angeles) faz com que feiras um pouco menores, como as de Madri (Arco), Genebra (artgenève) e Bruxelas (Art Brussels), procurem nichos para fazer a diferença, num circuito que movimentou US$ 15,5 bilhões (R$ 58 bilhões), em 2017, segundo relatório produzido pelo UBS e Art Basel.

Reunindo 195 galerias de 35 países, a Artissima se concentra cada vez mais seu foco em artistas emergentes. “É uma feira que tem uma identidade de pesquisa. O sistema de museus dessa região é muito bem organizado e neste ano a cidade é sede de um encontro entre museus privados do mundo”, diz Verusca Piazzesi, diretora da galeria Continua, que mostrava obras do chinês Qiu Zhijie e um grande painel do brasileiro Jonathas de Andrade a colecionadores e instituições.

Embora haja trabalhos mais caros, como um “Open Model” de Antony Gormley vendido a 350 mil libras, a maior parte das vendas dias gira entre 5 e 15 mil euros -daí a ausência de Gagosian, Pace, David Zwirner ou White Cube, que trabalham com valores mais altos.

Enquanto na feira de Milão (Miart) se compram modernos como Giorgio de Chirico e Lucio Fontana, a sessão “retrospectiva” da Artissima dedica-se apenas à redescoberta do passado recentíssimo de 1980-1994. O tempo é hoje.

“É realmente um espaço para descobrir novos nomes”, enfatiza a diretora da feira Ilaria Bonacossa. Nesse sentido, desembarcaram do Brasil trabalhos sonoros de Vivian Cacuri trazidos pela Gentil Carioca, uma série da artista mineira Lais Myrrha trazida pela galeria Vermelho e um stand dedicado a Mestre Didi concebido pela Almeida e Dale.

É uma representação pequena, mas de longe a maior da América Latina. “Nossa ideia é expandir a atuação e participar do máximo de feiras fora”, diz Carlos Dale, que levou obras de Volpi para a Frieze Masters.

Mais do que um lugar de compra e venda, feiras são centro de networking e de relações para o futuro. Sem disponibilidade para dar conta do calendário todo, os colecionadores vão atrás das melhores obras e os galeristas vão atrás dos melhores colecionadores. Não é cravo e açafrão, mas é como se fosse. Fugindo das grandes franquias, Tommaso Tisot, advogado e colecionador italiano, elogiava a pequena feira paralela Stampa, que viu em Madri: “Gosto cada vez mais de feiras menores. Basel é enorme, milhares de eventos ao mesmo tempo, ficamos estressados sem conseguir ver nada nem ninguém”.

Cidade industrial e sede da Fiat, Turim transformou parte de seus velhos armazéns e fábricas automotivas em espaços de arte e o fato de a feira coincidir com a temporada de trufas serve como atrativo adicional. Enquanto as feiras de Colônia, Madri e Bruxelas viram o número de visitantes cair nos últimos cinco anos, Turim se manteve estável contabilizando oficialmente pouco mais de 50 mil visitantes.

É principalmente sobre as incertezas na situação da Europa –com inquietações sobre “brexit” e o fim da era Merkel– e ascensão de líderes nacionalistas como Trump, Salvini e Bolsonaro que conversam em festas e jantares boa parte dos colecionadores presentes na cidade, uma concentração de PIB europeu digna de nota, com olhos voltados para China e as possíveis reconfigurações geopolíticas. A rota da seda em funcionamento.

*A jornalista viajou a convite da Artissima.