BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Bloqueios de ruas e passeatas pelas ruas de Buenos Aires que se juntaram em frente à Casa Rosada, sede do governo argentino, antecederam o primeiro ato da greve geral convocada pela Confederação Geral do Trabalho (CGT) e a Central de Trabalhadores da Argentina (CTA) contra as políticas econômicas do governo do presidente Mauricio Macri.

“Chega de demissões”, “Volte, morena” (apelido da ex-presidente e atual senadora Cristina Kirchner), “Macri, boneco nas mãos do FMI”, eram alguns dos cartazes que podiam ser vistos.

Com um ato conjunto iniciado pouco depois das 16h, sindicatos que pertencem às duas centrais concordaram em realizar nesta terça-feira (25), já a partir da madrugada, uma greve geral.

Entre os principais serviços que serão afetados estão os transportes -metrô, ônibus, voos nacionais e internacionais-, comércio, distribuição de produtos por meio de caminhões, escolas, repartições públicas, bancos, coleta de lixo, supermercados. Na área de saúde pública, estarão abertos apenas os prontos-socorros.

Em nota, a Aerolíneas Argentinas oferece aos passageiros remarcação gratuita de voos para viagem em um período de até sete dias após a greve. A mudança pode ser feita no site da empresa ou pelos telefones 0800-761-0254 no Brasil e 0810-222-86527 na Argentina.

A Latam também permite a alteração dos bilhetes sem custo ou multa em seu site e nos telefones 4002-5700 nas capitais brasileiras, 0300-570-5700 em cidades do interior e 0810-9999-526 na Argentina. No caso, os passageiros podem remarcar suas viagens para até 15 dias depois da viagem.

A Gol e a Azul não informaram até o momento se suspenderão seus voos entre o Brasil e a Argentina.

Os trabalhadores reclamam da política de ajustes que o governo vem promovendo, com a retirada paulatina dos subsídios das principais tarifas e que deve se acentuar caso seja aprovado o novo projeto de Orçamento, enviado desde o Executivo ao Congresso e que se encontra em debate. 

Os manifestantes também carregavam cartazes contra o FMI, justamente nos dias em que o Macri e Christine Lagarde, diretora-gerente da entidade, devem se encontrar nos EUA. O governo argentino quer renegociar o empréstimo já acertado, de US$ 50 bilhões (R$ 204,5 bilhões), por um de cifra ainda maior.

“Vão nos endividar até nossos netos”, dizia Adolfo Félix, 63, professor de uma escola de Zárate, presente ao ato.

Havia pedidos dos sindicalistas aos congressistas e governadores peronistas moderados (os não-kirchneristas), que até agora seguem apoiando o governo de Macri, porém sob forte pressão de sua base eleitoral.

“Este não é só um ato contra Macri, fazemos um chamado aos peronistas que ganharam eleições com cartazes de Perón e Evita, mas que agora vão aprovar esse Orçamento que prejudica os trabalhadores”, disse o líder dos caminhoneiros, Pablo Moyano.

O Orçamento enviado ao Congresso na semana passada busca atingir a meta de déficit zero exigida pelo FMI, e por conta disso prevê cortes significativos em gastos sociais.

Os trabalhadores também protestaram contra a ideia de voltar a discutir, ainda que de forma “fatiada”, uma reforma trabalhista, que incluiria flexibilização dos contratos. “Não vamos abrir mão de conquistas de tantas décadas”, disse o líder da CTA, Hugo Yasky.

Durante o protesto, havia também vários cartazes aludindo à disparada do dólar, iniciada em abril e que já se encontra em 40 pesos -uma desvalorização de 50% neste ano- e ao aumento da inflação, hoje em 25%, mas cuja previsão para o fim do ano é de que chegue a 40%.

Dados publicados pelo governo na semana passada tampouco acalmaram os ânimos. No segundo trimestre, a economia se contraiu 4,2%. O desemprego subiu de 8,7% em 2017 para 9,6%, entre abril e junho de 2018.

No Orçamento enviado ao Congresso se prevê que o PIB cairá 2,4% em 2018, o que estima que se chegue a um número negativo ou próximo a 0,5% em 2019, segundo o ministro da Fazenda, Nicolás Dujovne.

Enquanto Macri e a equipe econômica se encontram nos EUA, participando do encontro da ONU e em compromissos com empresários e o FMI, o governo respondeu ao ato por meio da fala de alguns de seus ministros.

“Respeitamos o direito constitucional que têm as organizações sindicais de se manifestar, mas o momento não é oportuno”, disse o ministro do Transporte, Guillermo Dietrich. 

Já Dante Sica, de Trabalho e Produção, disse que “isso tem impacto na vida dos trabalhadores que não necessariamente querem fazer greve, colocam uma trava na economia argentina”.