Vários objetos, expressões, atividades, animais e alimentos são representados por emojis em mensagens publicadas nas redes sociais ou trocadas em aplicativos, como o WhatsApp. Muitas vezes, eles falam mais do que mil palavras: receber uma carinha triste gera mais impacto do que ler a mensagem “estou triste”. São centenas de ícones disponíveis, mas a jornalista argentina Florencia Coelho sentia falta de um: o mate, bebida presente no dia a dia dos argentinos e dos gaúchos, não estava representado nos teclados de smartphones pelo mundo. 
Para resolver a questão, a jornalista se envolveu em um projeto para solicitar formalmente a figura. “O emoji do mate seria usado todos os dias, e não só na Argentina”, disse Florencia. A bebida também é uma tradição no Sul do Brasil, onde é conhecida como chimarrão.
Outros países como Uruguai, Paraguai, Chile e Síria também compatilham o mesmo gosto. Nesses lugares, o mate tem um significado cultural: ele une as pessoas ao seu redor e simboliza encontros. 
Jennifer 8 Lee, fundadora da organização não-governamental Emojination — que faz campanhas para emplacar emojis —, se juntou à Florencia para lutar pelo emoji do mate. 
Para isso, precisaram superar uma série de desafios, já que o Unicode Consortium, responsável pela padronização dos emojis, exige uma série de etapas burocráticas para aceitar um novo emoji. Poderia ser um obstáculo, mas esse acabou sendo um dos motivos que animou a jornalista. “Achei que seria divertido provar como funcionava o processo”, conta Florencia.
Em julho de 2017, Florencia pediu ajuda para tocar o projeto em uma conferência da comunidade Hacks/Hackers de Buenos Aires, que reúne jornalistas e programadores. Algumas pessoas se animaram e ela conseguiu criar uma equipe. 
Obama e Neymar
O grupo elaborou um documento de 40 páginas e o enviou ao Unicode em março deste ano. Atendendo às exigências do Unicode, eles argumentaram a importância do símbolo, provaram que o mate é um nome frequentemente buscado na internet, deram diversos exemplos de situações em que o emoji poderia ser usado e mostraram que o mate não é específico demais, já que ele está presente em vários países, além da Argentina.
Para reforçar o alcance do mate, o documento conta com uma série de fotos de celebridades como o papa Francisco, o Obama e o Neymar tomando a bebida. A equipe também usou ao seu favor os dados que mostram que América Latina é a região do mundo que mais usa redes sociais.
Além disso, a criação do desenho do mate envolveu um estudo sobre os diferentes tipos da bebida, sendo que, no final, o modelo escolhido foi o mais tradicional, usado pelos índios guaranis — uma decisão diplomática.
“Apresentamos a questão como se fosse uma ação judicial, com muitos argumentos”, explica Florencia. Para ela, que além de jornalista é advogada, fazer um estudo nesse formato não foi tão complicado. Eles foram levando esse trabalho aos finais de semana, feriados e férias.
O emoji do mate já superou algumas instâncias do processo e agora está entre as figuras finalistas que podem chegar aos celulares e computadores em 2019. Enquanto a decisão final do Unicode Consortium não sai, a equipe está organizando uma campanha nas redes sociais para fortalecer a ideia do emoji. Eles pedem que os brasileiros que quiserem participar do movimento usem as hashtags #mate e #chimarrão, nos dois idiomas, para unificar a campanha nas redes sociais.