A roupa é um código absurdamente eficaz. É o discurso que antecede à fala. Quer ver? Aproveite o Festival de Curitiba, que começa dia 26 de março e vai até 7 de abril, e repare como o figurino de um personagem diz quem ele é, de onde vem, em que tempo vive, pode dar pistas do seu ramo de atuação, reflete traços da personalidade, pode ser manipulado para reforçar uma ou outra característica. Ao invés de explicar tudo isso, usam-se roupas.
Na vida real, suas escolhas dizem quem você é, do que gosta e o que está querendo naquele exato momento. Mas, se você não sabe manejar direito o potencial de um guarda-roupas, corre o risco de espalhar uma imagem que não é bem a que você gostaria. Para exercitar o olhar, aqui vai um exercício lúdico: vamos dar uma olhada nas peças que estão rolando para sacar a retórica poderosa de um bom figurino.


LeoAversa

“O Frenético Dancin Days” – musical dirigido pela bailarina e coreógrafa Deborah Colker e com a produção musical do jornalista Nelson Motta, revive a história de uma discoteca, na cena efervescente do Rio de Janeiro dos anos 1970. O caráter libertário da boate foi enriquecido por referências políticas, sociais, filosóficas, artísticas. Aí, amigos, é só atestar o figurino setentinha. Aquela delicia de cores, estampas e formas exageradas, calças boca de sino, franjas, volumes, brilho, que vez ou outra aparecem para relembrar nosso clamor por paz e não por guerra, ao melhor estilo flower power.

LeoAversa

Elza Soares – hoje com 81 anos, continua a conquistar o mundo com a voz rouca e a louca coragem de cantar sua justiça. O musical premiado “Elza”, com direção de Duda Maia, capta a essência da artista no auge da carreira marcada por reviravoltas e renascimentos. No figurino, toda sensualidade e força dessa mulher negra, de origem pobre, vida sofrida e com voz e discurso de arrepiar. No mais, o orgulho estampado no brilho, nas fendas e no cabelo black.

Renato Mangolin

Dogville – é a primeira adaptação teatral brasileira do filme de Lars von Trier. Com direção de Zé Henrique de Paula, a montagem conta a história da chegada de uma forasteira misteriosa que procura abrigo em uma cidade pacata, para se esconder de um bando de gângsteres. O espetáculo faz uma crítica mordaz à sociedade contemporânea e discute questões atuais, como xenofobia, intolerância e exploração do outro. Cenário e figurino – que concorre ao Prêmio Shell – exploram a estética dos poucos e significativos elementos cênicos, reforçando o clima e as intenções dos personagens. 

João Caldas

Na peça ‘PI’ – Panorâmica Insana”, da diretora Bia Lessa, 200 peças de roupas são usadas pelos atores para dar vida a seus 150 personagens. Outras 11 mil peças de roupas compõem o figurino e estão espalhadas pelo palco. Baseado em pessoas e dados reais, “PI” traça um painel irônico do mundo atual. A dramaturgia do espetáculo transita entre artes plásticas, teatro e dança.