SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Escola Estadual Raul Brasil deve ter seu projeto arquitetônico repaginado, proposto à secretaria de Educação de São Paulo e a ser avaliado pelo governo, pela direção da unidade, por pais e por alunos.


Todas as instalações propostas têm uma ligação afetiva com Suzano. Estão previstas cerejeiras, por exemplo, que são um símbolo para imigrantes japoneses -a cidade tem uma das maiores comunidades nipônicas do estado- e tatames, referência à política inclusiva do município na prática de artes marciais.


Segundo Rossieli Soares, secretário de Educação da gestão Doria (PSDB), a ideia é que “a Raul Brasil seja uma nova escola, mas sem perder a sua identidade”. O secretário diz que está nos planos um laboratório de inovação. “O recurso para as obras virá de parcerias com a iniciativa privada”, afirma Rossieli.


Aberto seis dias depois do atentado, o colégio ainda não conseguiu cumprir o calendário pedagógico à risca. Aulas continuam intercaladas com rodas de conversa, palestras e trabalhos culturais.


Beatriz de Souza Reis, 16, presidente do Grêmio Estudantil da Raul Brasil, conta que os alunos foram avisados de que não terão avaliações com nota neste bimestre. “Vejo muitos colegas chorando no pátio e pelos cantos. Vai levar muito tempo para tudo voltar ao que era antes.”


O muro do colégio fala por si. Entre as centenas de mensagens de carinho e conforto, um grafite que estampava o rosto das sete vítimas mortas na escola (cinco alunos e duas funcionárias) foi apagado. Segundo a secretaria de Educação, o pedido partiu de alunos e professores.


Ainda não se sabe quantos professores pediram afastamento nem o número exato de alunos transferidos da escola. À Folha, o secretário diz que tem conhecimento de duas transferências de docentes. Os alunos ouvidos pela reportagem citam dez casos.


Para Ana Lúcia Ferreira, diretora do sindicato dos professores de Suzano, o futuro da Raul Brasil preocupa por falta de propostas pedagógicas claras. Ferreira defende um planejamento pedagógico transparente e embasado em análises de especialistas. A sindicalista também demanda que os pais, os professores e os alunos sejam ouvidos.


Uma professora que leciona no 6º e no 9º do ensino fundamental conversou com a Folha sob a condição de anonimato. Ela diz que a medida mais acertada seria transferir a Raul Brasil de endereço. “O clima é de pressão e intimidação. Não haverá trabalho psicológico algum que mude o que aconteceu ali. Não adianta, como fizeram, pintar o piso do saguão. A tragédia está impregnada.”


Duas preocupações têm tirado o sono dos pais. “Queremos a certeza de que o apoio psicológico vai funcionar sem interrupções e de que nossos filhos ficarão seguros lá”, afirma Juliana Ribeiro, 35, porta-voz da comissão de pais.


A reportagem esteve na última semana em frente ao colégio. Alunos e professores têm usado um portão lateral. O movimento é controlado por um funcionário. A reportagem apurou que todos os alunos e professores começaram a ser fotografados e usarão um cartão com identificação e foto para entrar e sair na escola.


O secretário de Educação, Rossieli Soares, disse ser contra o fechamento e a militarização da Raul Brasil. Ele afirmou que foram contratados psicólogos para atender na escola por dois anos.