SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – "A gente está no limbo. Esse incêndio no museu mais importante do país está aí para deixar escancarado que realmente a gente está largado", diz Iza, à reportagem, nesta terça (4), sobre o desastre ocorrido no Museu Nacional do Rio na noite do domingo (2).

A cantora carioca, de 28 anos completados nesta segunda (3), costuma repudiar o racismo e o machismo com canções de versos empoderadores, mas assume um tom desesperançoso ao falar da situação atual do país, a qual considera preocupante.

"A gente não tem futuro, porque não preza pela educação, e é isso, sim, que define o futuro de um país, e agora a gente não tem passado, porque também não cuida das nossas raízes", diz, no camarim do programa Música Boa Ao Vivo, que vai ao ar às terças no Multishow.

Para a artista, que deslanchou no ano passado com o hit "Pesadão", os candidatos dessas eleições deveriam priorizar cultura e educação em suas propostas. "Acho que quando valorizam esses dois aspectos muitos outros problemas, como violência e a divergência social e econômica, seriam resolvidos."

Ela afirma já ter escolhido em quem votar para presidente, mas não revelou. "Voto é secreto", diz. "Sei que isso que eu tenho na mão, o microfone, é uma arma. Muita gente se inspira naquilo que eu falo e nas minhas opiniões e neste momento prefiro me abster sobre meu posicionamento político, em quem eu vou votar, de que lado eu estou."

Iza também não comenta as propostas de seu candidato que acha interessantes, mas afirma se preocupar com a inclusão e qualificação do negro no mercado de trabalho. "Então qualquer candidato que expresse uma preocupação sobre isso merece minha atenção para que eu veja seus planos de governo e entenda melhor seus projetos."

Se prefere não dizer o político escolhido, ela não faz cerimônias para refutar o deputado e presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). "Jair Bolsonaro. Não preciso falar mais", respondeu ao ser questionada do motivo pelo qual não endossa o candidato.

O STF (Supremo Tribunal Federal) examina uma denúncia por crime de racismo após o parlamentar dizer em uma palestra que havia visitado um quilombo em Eldorado paulista e que o "afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas" [unidade de massa utilizada em pesagem de bovinos e suínos]. 

O deputado acrescentou que essas comunidades "não fazem nada, nem para procriador eles servem mais". Em seus pronunciamentos, ele tem rebatido as acusações mencionando como exemplo antirracista sua proximidade com o sogro, Paulo Negão. 

"Você ter um amigo gay, um amigo gordo, que faz parte de uma minoria, não te exime do lugar de racista, homofóbico, gordofóbico, são diversas outras coisas que te caracterizariam como tal, então essa não seria uma desculpa para ele ou para qualquer pessoa", diz Iza, afirmando que não acompanhou a polêmica envolvendo Bolsonaro.

CARREIRA

As bandeiras de representatividade e empoderamento da mulher negra têm sido alicerces do sucesso de Iza desde que a publicitária de Olaria, na zona norte do Rio, passou a publicar suas gravações autorais e covers no YouTube.

Depois de um ano com seus singles nas paradas musicais brasileiras, a cantora foi escolhida como sucessora de Anitta e Thiaguinho na apresentação do programa Música Boa Ao Vivo, do Multishow. Nesta terça, ela ensaiava com Harmonia do Samba, Sorriso Maroto e Nego do Borel para o programa que vai ao ar às 20h30.

A cada episódio, ela recebe três convidados, sem distinção de estilos, que se revezam no palco sozinhos, em duetos ou todos juntos —a seleção já incluiu nomes como Gilberto Gil, Naiara Azevedo e Di Ferrero. 

É justamente esse ecletismo o grande chamariz do programa, diz ela. "Acaba mostrando como a música brasileira é diversa. Hoje em dia o público é mais aberto, esse programa é o reflexo do que a gente vive, esse grande encontro, as pessoas estão cada vez mais consumindo estilos diferentes e acho isso supersaudável."

A quinta temporada do Música Boa Ao Vivo segue até outubro com as gravações em São Paulo, após um incêndio atingir os estúdios do programa no Rio de Janeiro. 

A mudança de sede é só mais um detalhe na agenda da cantora, que continua em turnê nacional de seu álbum de estreia, "Dona de Mim", até o fim do ano. No último fim de semana, por exemplo, ela foi de Florianópolis a Manaus com shows em dias consecutivos.

Nos próximos meses, Iza deve lançar parcerias com Sandy, Di Ferrero e Ponto de Equilíbrio. "No final do ano devo dar um tempo, tirar umas férias, e 2019 a gente volta com tudo, com novas parcerias."