BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A dois dias da posse do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), autoridades responsáveis pela cerimônia disseram haver indefinição quanto ao uso do carro aberto, o tradicional Rolls-Royce, ou carro fechado. O GSI (Gabinete de Segurança Institucional), responsável pelo evento, informou considerar que há ameaças reais à segurança de Bolsonaro, mas que está pronto para enfrentá-las.

“A decisão do carro aberto ou fechado, que é uma coisa menor numa festa tão grande e bonita, será decidida pelo presidente da República”, disse o general Sergio Etchegoyen, atual chefe do GSI. Segundo ele, a definição virá no dia 1º, diante da vontade de Bolsonaro e das circunstâncias.

Já o futuro chefe do GSI, general Augusto Heleno, um dos principais conselheiros de Bolsonaro, afirmou que a decisão sobre o carro será do presidente eleito. “Critério Jair Messias Bolsonaro”, respondeu, ao ser questionado. “Não tem como a gente dizer.”

Etchegoyen minimizou a importância de como será o desfile. “As pessoas que vêm pra festa não estão preocupadas com os critérios de carro aberto ou carro fechado. A nossa responsabilidade é garantir que a vontade de 58 milhões de brasileiros se concretize”, disse.

Questionado sobre se houve aumento da segurança para a cerimônia, em comparação com as passadas, Etchegoyen disse que “o correto é dizer que o presidente eleito sofreu um atentado contra a vida dele”, e por isso as autoridades precisam ter cautela.

Sobre investigação da Polícia Federal sobre eventuais ameaças de atentados no dia da posse, o militar declarou que “o fundamento e a sustentação das ameaças vão estar no inquérito da Polícia Federal”.

“Nós não temos o direito de descartar nenhuma delas [das ameaças]. Nós estaremos preparados sempre para fazer frente a qualquer das ameaças. Todas as ameaças possíveis estão sendo prevenidas e serão neutralizadas.”

Etechegoyen e Heleno não quiseram dizer qual a expectativa de público para o evento, mas declararam que estão preparados para até 500 mil pessoas. Também não responderam se haverá militares à paisana e armados no meio da multidão. “Vocês têm que entender que ações de segurança e inteligência têm caráter sigiloso”, disse Heleno.

A equipe responsável pela cerimônia de posse realizou o segundo ensaio na Esplanada dos Ministérios na tarde deste domingo (30). Diferentemente do primeiro, feito no domingo anterior (23), o dublê que interpretou Bolsonaro fez o trajeto da Catedral Metropolitana até o Congresso em carro fechado, e não no Rolls-Royce.

A Esplanada foi bloqueada com tapumes. Do lado de fora, algumas dezenas de eleitores de Bolsonaro erguiam bandeiras do Brasil e tentavam espiar pelas frestas da barreira.

“A segurança vai ser o ponto-chave do evento. Vai ser uma festa bonita, que vai mostrar como o Brasil se uniu para eleger esse presidente diferenciado”, disse a militar Sandra Moreti, 37, que tentava ver o ensaio com o marido e a filha de um ano e sete meses. Todos vestiam camisetas amarelas.

Com a posse, hotéis de Brasília estão batendo recordes de procura. A taxa de ocupação média superava os 70% neste domingo (30), ante 20% no mesmo período do ano passado, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-DF). A expectativa é de que bata os 90% na segunda (31).

No hotel Athos Bulcão, 94% dos quartos já estão reservados para a véspera do evento. O esquema de segurança sem precedentes preparado pelo Palácio do Planalto envolveu os hotéis, que distribuíram material informativo orientando os hóspedes a identificar bombas em locais como aeroportos e banheiros.

Uma cartilha sobre o que pode e o que não pode ser levado para a Esplanada dos Ministérios era distribuída nas recepções. Não poderão entrar animais, bolsas, mochilas, garrafas, carrinhos de bebê e nem sombrinhas, apesar da previsão de chuva para terça.

A expectativa do Planalto é de que entre 250 mil e 500 mil pessoas compareçam à posse. Muitas se anteciparam e passaram o fim de semana fazendo turismo em Brasília, experiência que tinha um quê de frustração.

Caminhões foram usados para bloquear os dois sentidos da Esplanada dos Ministérios, na qual se atravessou um muro metálico. Não é permitido nem a pedestres o acesso a alguns dos prédios de maior interesse do público, como o Congresso Nacional e a Catedral de Brasília.

As vias paralelas também foram inteiramente fechadas. Izabela Silva, 37, foi avisada por homens do Exército de que, para seguir de bicicleta por uma delas, precisaria de uma credencial. “Talvez eu seja perigosa!”, brincou.

Muitos apoiadores de Bolsonaro se aglomeravam a distância dos prédios da Praça dos Três Poderes, tirando fotos com o zoom de suas câmeras e fazendo orações.

O pastor evangélico José Carlos Ayres Ângelo, 64, foi ao curto pedaço acessível da Esplanada para, em suas palavras, “estabelecer território”. Na segunda, a partir das 21h, ele e outros fiéis estarão no local em vigília até a meia-noite.

Ele diz acreditar que uma nova ordem política, social e espiritual está se estabelecendo no Brasil. “Quem venceu as eleições foi o poder de Deus, contra as potestades de esquerda que querem implantar o comunismo no Brasil”, declarou, explicando que não só o voto popular, mas as orações pelo sucesso de Bolsonaro foram fundamentais para que ele fosse eleito.

Laurindo Shalom, 64, que congrega na igreja Presbiteriana, levou para o gramado em frente ao Museu Nacional uma bandeira de Israel e uma trombeta de chifre de carneiro, a qual fez soar, segundo ele, a pedido de Deus.

“É um ato memorial. Estamos agradecendo ao senhor por esta vitória”, explicou. “Estamos aqui para apoiar também a decisão de transferir a Embaixada do Brasil para Jerusalém. Jerusalém é nossa”, acrescentou ele, que se identifica como judeu e também frequenta, segundo ele, uma sinagoga messiânica.

O comércio informal de camisetas, bandeiras e faixas presidenciais de apoio a Bolsonaro esquentou.

Aldinei Faustino, 57, viajou de Santa Catarina a Brasília e estendeu um imenso varal com os produtos em frente ao Setor Hoteleiro Norte. Acomodou-se à sombra de uma jaqueira, de onde tentava seduzir os transeuntes a comprar.

“Ontem [sábado] a venda bombou, mas amanhã [segunda] vai arrebentar. Minha torcida é para que não sobre nada.”