Em um estalo, chega mais uma vez o fim do ano. A maioria das pessoas leva um sobressalto ao perceber que já é dezembro novamente. Ainda que o Natal e o réveillon representem alegria e renovação, a correria com as compras, a sobrecarga de trabalho por causa das folgas e até o costumeiro “balanço pessoal” de fim de ano causam tensão e ansiedade para a grande maioria. Isso foi constatado na pesquisa realizada recentemente pela International Stress Management Association (ISMA-BR), com 678 pessoas, de 25 a 55 anos, em Porto Alegre e São Paulo. Nada menos do que 75% dos entrevistados afirmaram que o nível de estresse aumenta neste período, especialmente em dezembro. 

O estudo aponta ainda causas específicas: 60% atribuem a tensão extra ao excesso de tarefas no trabalho; 25% justificam a irritação com os gastos adicionais em presentes e festas, e 60% acham que o estresse vem do planejamento excessivo que a época exige (no trabalho, na vida pessoal, com viagens, etc.).

A presidente no Brasil da ISMA, Ana Maria Rossi, que também é psicóloga, diz que a época propicia cobranças em todos os sentidos. “Há um acúmulo de tarefas e demandas, e os recursos internos diminuem, porque, geralmente, a pessoa dorme menos e cessa a atividade física para dar conta das tarefas”, fala ela, que coordenou a pesquisa. Para evitar toda essa tensão, aconselha manter-se realista e planejar.

“Temos que calcular o tempo e aprender a lidar com as tarefas para torná-las prazerosas, ao invés de obrigações desgastantes.” Organizar a viagem de férias com antecedência, ir aos shoppings em horários de menor movimento e dividir a organização das festas com outros familiares são meios de minimizar o estresse.

Estresse natalino — A publicitária Verônica Kraemer, de 28 anos, não é entusiasta do Natal. “Acho um horror a correria para comprar presentes, o trânsito”, esbraveja. “E para quê? Você é obrigado a ficar sorrindo em uma noite que é igual a tantas outras, sendo que a família já ficou brigando antes para decidir onde seria a ceia. Não gosto porque é uma obrigação, para mim festa deve ser por diversão.”

Neste ano, para não passar pelo estresse das compras e por ter acabado de fazer um investimento alto, já avisou aos parentes que não vai dar presente para ninguém. “Já chega a correria no trabalho para adiantar tudo antes da folga.”

Se, para todo mundo, o corre-corre de fim de ano já é bem estressante, imagine para uma comerciante que vende roupas no Brás, região central de São Paulo. Jane Eire Bressiani, de 37 anos, trabalha de domingo a domingo durante o mês de dezembro, e ainda faz questão de comprar “pelo menos uma lembrança” para cada integrante da família. No ano passado, ainda teve de preparar todos os detalhes da recepção de Natal na sua casa. “Todo mundo se cumprimenta, mas me dá vontade de chorar, é uma melancolia.”

Apesar de não comemorar mais o Natal, por ser budista, o administrador de empresas Alexandre Oda, de 37 anos, não deixa de presentear os parentes. “O cansaço do ano se acumula, e temos que encarar o trânsito ruim, os shoppings cheios.” Desde o ano passado, ele passa o feriado de Natal em um hotel de Jundiaí, no interior de São Paulo, só para descansar.

Não bastasse a imensa lista de tarefas, o trânsito excessivo e até o balanço pessoal, a psicóloga Isabel Cristina Labate, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), lembra ainda que, no fim do ano, as emoções afloram. “As pessoas ficam mais sensíveis. O período entre o Natal e o ano novo é quando o meu consultório fica mais cheio de clientes.” Tudo o que aconteceu durante o ano volta à memória. Especialmente eventos negativos como uma separação, perda de um ente querido ou frustrações por não ter alcançado as metas propostas. “Nesta época, o ideal é avaliar o que está sendo feito pela própria pessoa. E tentar ter uma visão global, reforçando os aspectos positivos de tudo o que se viveu no ano.”