Anete Lusina no Pexels – O não que deixa de ser dito

Uma das primeiras coisas que os pacientes da Psicanálise respondem é que têm dificuldades em dizer não. Seguido do bloqueio em precisar fazê-lo, quando julgam necessário. Nessa hora jogo outra perspectiva daquilo que dizem ser algo que não sabem fazer. “Lógico que você sabe dizer não. Qual é a primeira pessoa que nega?” – então o sorriso no canto dos lábios se mostra proeminente. Um franzir de testa e a interrogação se torna a máscara cai. A da persona que quer sempre agradar. Ou seja, a primeira pessoa que você diz não é a si mesmo. 

Vamos lá, o não para o que precisa ser dito é maturidade, clareza, a verdade, a honestidade. Nem por isso há necessidade de ser grosseiro ou insensível. Carlos não podia assumir o compromisso com Letícia, na data proposta por ela. Era um encontro preterido por ambos há tempos. Carlos tinha uma prioridade, até imposta por vínculos profissionais que já haviam agendado como algo imprescindível, além do seu próprio controle. Como ele pode recusar o convite? Nem precisa dizer o não em si. “Letícia, vamos marcar na próxima semana então, vou ser 100% seu,

mente, corpo e alma, sem nenhum outro compromisso inadiável, o que acha?” e completa colocando mais uma pergunta para expandir.

Se dizer o não gentilmente é libertador, aceitar o não é de uma “bemresolvidisse” de encantar qualquer terapeuta. O não está embutido em algumas vaidades; entre elas a de ser sumariamente benquisto por tudo e todos. Ao pressupor que não dizer não, vai ser melhor aceito, a pessoa assume para si o fardo de fazer o que não quer e aceitar tudo que simplesmente é indigesto de sua natureza e assim, sempre, em todas as circunstâncias se colocando de forma secundária. Com o passar do tempo, assume a frustração como a mola-mestra da sua condição e acredita que a situação se tornou irreversível.

E saber receber o não, evidente, quando bem dito, denota uma capacidade e maturidade para entendimento da negativa, não diretamente para si, mas ao contexto. Sempre é interessante analisar o ambiente desse não. Nem sempre é sobre você, mas ao quadro em que se apresenta. Lurdinha decidiu não sair mais com antigos amigos, que havia se indisposto por motivos particulares. A questão já estava resolvida, inclusive a de que cortar os laços era a atitude mais inteligente. Uma amiga em comum a convidou para uma festa onde essas pessoas estariam. Lurdinha ponderou se sentiria à vontade ou então ficaria incômodo. Ao ser honesta consigo, e se conhecer de verdade, saberia que em algum momento poderia ficar indisposta e preferiu dar a negativa de forma leve e saudável. “Obrigada pelo convite, tenho certeza que vai ser um encontro super agradável, prometo que estarei na próxima vez”. Pronto, sem necessidades de justificativas mais profundas, honestidade e coração leve.

O não que deixa de ser dito, é o peso e a mentira que você sustenta. Pergunte-se qual a necessidade disso. A quem pretende enganar. Você quer ser amado por meio daquilo que deixa de dizer? Ao aprender a dizer o não inteligente, você abre mais possibilidades de bem-estar, especialmente o próprio.

 

*Ronise Vilela é criativa de Comunicação Afetiva e Psicanalista Integrativa. Atende pacientes on-line e presencial com terapia que inclui escuta ativa, respiração consciente, Escrita Afetiva e meditação fácil.

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Essa coluna tem o apoio da Consonare – maior plataforma de Terapias Integrativas da América Latina.