WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Meses depois de imporem tarifas bilionárias que deram início a uma guerra comercial global, os Estados Unidos ingressaram nesta segunda-feira (16) com uma disputa contra a China, União Europeia, Canadá, México e Turquia na OMC (Organização Mundial do Comércio), em protesto contra sobretaxas retaliatórias aplicadas a produtos americanos.

O governo de Donald Trump, que já taxou quase US$ 100 bilhões em importações pelo mundo (ou cerca de R$ 387 bilhões), vinha sendo um crítico incisivo da OMC.

Mas, nesta segunda, argumentou que agiu dentro de normas internacionais, com o objetivo de proteger a segurança nacional e protestar contra o roubo de propriedade intelectual, entre outras práticas predatórias.

Já os demais países teriam atuado “sem qualquer justificativa”, fora de tratados internacionais de comércio, segundo o governo dos EUA. Somados, eles aplicaram tarifas a cerca de US$ 68 bilhões (R$ 262 bilhões) em produtos americanos.

Desde janeiro, os americanos já tarifaram aço e alumínio importados, bem como produtos de tecnologia, painéis solares, peças e automóveis da China. Ameaçam expandir as sobretaxas contra mais US$ 200 bilhões (R$ 771 bilhões) em produtos do país asiático.

A prática foi duramente criticada por economistas e governos em todo o mundo, que acusaram os EUA de protecionismo. O FMI (Fundo Monetário Internacional) ressaltou, em relatório publicado nesta segunda, que a disputa comercial ameaça o crescimento da economia mundial, e afeta negativamente a confiança de investidores.

Os EUA argumentam que agiram com base em leis americanas e em investigações do governo, que demonstraram risco à segurança nacional (no caso das tarifas contra o aço e alumínio) ou práticas desleais por parte de determinados parceiros comerciais (mais especificamente, a China).

As retaliações, que entraram em vigor a partir de abril, após tentativas frustradas de negociação, afetaram principalmente a produção agrícola dos EUA, além de itens tipicamente americanos, como pasta de amendoim, motos da Harley-Davidson, calças jeans e uísque.

“Em vez de trabalharem conosco para enfrentar um problema comum, alguns dos nossos parceiros comerciais preferiram responder com medidas retaliatórias feitas para punir trabalhadores, empresas e fazendeiros americanos”, afirmou o embaixador Robert Lighthizer, que está à frente da Representação de Comércio dos EUA.

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, pediu à China, Estados Unidos e Rússia, nesta segunda, que “evitem o conflito e o caos”. Tusk estava com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, para participar da cúpula anual China-União Europeia, onde foram recebidos pelo presidente chinês, Xi Jinping.

A China também acionou a OMC nesta segunda-feira, contra a ameaça de novos US$ 200 bilhões em tarifas pelos americanos. O país já havia alertado a organização sobre o caso, argumentando que as medidas “comprometem o sistema multilateral de comércio”.

No terreno comercial, o país asiático já tinha prometido retaliar os americanos passo a passo. Mas há muito acusada de táticas protecionistas que a tornam um lugar difícil para empresas estrangeiras, a China está tentando reverter essa narrativa em meio à crescente guerra comercial aprovando enormes investimentos, como um projeto petroquímico de US$ 10 bilhões da alemã BASF.

Em coletiva de imprensa conjunta com Li e Tusk no Grande Salão do Povo, em Pequim, Juncker disse que a medida mostra que “se a China deseja se abrir, ela pode fazer isso. Ela sabe como se abrir”.

No campo da negociação oficial, agora, cabe à OMC, presidida pelo brasileiro Roberto Azevêdo, arbitrar sobre a disputa. A instituição pode mediar um acordo entre os países ou autorizar a imposição de medidas retaliatórias.

Trump já afirmou que a OMC é “uma catástrofe” e que os EUA perdem muitas batalhas na instituição. defende que suas regras sejam atualizadas e que os países-membros abram suas economias -uma crítica especialmente dirigida à China.

Apenas um país ficou de fora da ação americana na OMC: a Rússia. A nação comandada por Vladimir Putin, com quem Trump se encontrou nesta segunda, também foi afetada pelas tarifas ao aço e alumínio, e aplicou sobretaxas retaliatórias a US$ 876 milhões em importações americanas.

A Rússia, porém, já entrou com um pedido de consulta contra as tarifas de Trump na OMC, no início do mês.