DIOGO BERCITO
MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – A migração vinda da África Subsaariana para a Europa cresceu de maneira drástica nesta última década, com a chegada de ao menos um milhão de pessoas desde 2010, segundo um relatório publicado na quarta-feira (22) pelo instituto americano Pew Research Center.
Nesse período, a tendência foi a de incrementar o fluxo ano a ano.
Por exemplo, houve 58 mil novos pedidos de asilo de migrantes da região na Europa durante 2010 e, um ano depois, a cifra já estava em 84 mil. Foram 168 mil novos pedidos em 2017.
Esses números consolidam um fenômeno já percebido pelos diferentes países europeus, onde a migração se tornou um dos principais temas eleitorais nos últimos pleitos.
A chegada de migrantes e o rechaço de parte da população a eles foi fundamental à campanha da ultranacionalista francesa Marine Le Pen em 2017, por exemplo, levando seu partido ao segundo turno.
O desgosto quanto à entrada de massas vindas da África e também do Oriente Médio na Itália, por sua vez, ajuda a explicar o sucesso eleitoral do partido ultranacionalista Liga, que teve 17% dos votos em 4 de março e pode liderar o próximo governo do país.
O fluxo de migrantes não equivale, no entanto, ao número de pessoas que de fato vivem no continente —diversos deles migraram a outros lugares, por exemplo. O Pew estima que 4,15 milhões de migrantes da África Subsaariana residiam na Europa durante 2017.
Esses migrantes deixaram seus países motivados pela pouca confiança que têm em seu futuro.
O PIB (produto interno bruto) da África Subsaariana deve crescer 3,2% neste ano, segundo o Banco Mundial, mas o desemprego ali é estimado em 7,4%, um valor considerado alto. Em algumas dessas nações, conflitos ou instabilidade política também motivam o fluxo de saída.
Apesar de a Síria ainda ser o país com a maior população emigrante no mundo (6,8 milhões de pessoas em 2017), países da região subsaariana dominam o restante lista, como o Sudão do Sul (1,7 milhões) e a República Centro-Africana (720 mil).
REGIÃO
A África Subsaariana é aquela ao sul do deserto do Saara, incluindo países como Tanzânia, Gana, Senegal e Nigéria. Estão excluídos, portanto, os países do norte africano, como Egito e Marrocos.
A cifra de um milhão de pessoas chegando à Europa citada pelo Pew leva em conta os 970 mil novos pedidos de asilo e inclui também estudantes e familiares de refugiados espalhados pelo continente.
A migração da África Subsaariana para os EUA também cresceu desde 2010, com mais de 410 mil pessoas se mudando ao país: 110 mil como refugiados, 190 mil com visto por laços familiares e 110 mil com outros tipos de visto, afirma o Pew.
Mas os perfis dos migrantes da África Subsaariana à Europa e aos EUA são distintos.
Mais da metade das pessoas que foram à Europa vieram da África do Sul, da Somália, do Senegal, de Angola, da República Democrática do Congo e de Camarões.
Já mais da metade dos migrantes que foram aos Estados Unidos vieram de outros lugares: da Nigéria, da Etiópia, de Gana e do Quênia.
A perspectiva é de que o fluxo à Europa e aos EUA se mantenha em alta nos próximos anos.
O mesmo instituto de pesquisa ouviu cidadãos na região sobre seus planos, e mais de um terço das pessoas no Senegal, em Gana e na Nigéria disseram ter a intenção de migrar nos próximos cinco anos, por exemplo.