PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – O ex-primeiro-ministro francês Manuel Valls, 56, anunciou nesta terça-feira (25) sua candidatura à Prefeitura de Barcelona.

Nascido na capital catalã, ele nunca viveu ali nem em qualquer outra cidade espanhola. Filho de pai espanhol e de mãe natural do cantão italiano da Suíça, naturalizou-se aos 20 anos cidadão da França, onde construiu toda a sua carreira política.

Valls foi prefeito de Évry, cidade de 50 mil habitantes a sudeste de Paris, e deputado pelo departamento de Éssonne -cuja capital é justamente Évry. Ganhou projeção nacional a partir de 2012, primeiro como ministro do Interior e, a partir de 2014, como premiê no governo do socialista François Hollande.

No espectro partidário, é visto como um representante da ala mais conservadora da esquerda, o que ficou claro em seu apoio, logo após os atentados de novembro de 2015 em paris, ao projeto de lei que visava tirar a nacionalidade francesa dos condenados por terrorismo que tivessem duas cidadanias.

Críticos disseram que a medida criava duas categorias de franceses, e a redação do texto acabou sendo revista.

Segundo a imprensa francesa, Valls começou a considerar relançar sua carreira no país vizinho no fim de 2017. Alguns meses antes, havia sido derrotado nas primárias presidenciais do Partido Socialista por Benoît Hamon, este um nome “da esquerda da esquerda”, que terminaria numa amarga quinta posição (com apenas 6% dos votos) na eleição vencida por Emmanuel Macron, ex-correligionário dos dois.

Desde então, o ex-premiê desligou-se do Partido Socialista. Hoje, cumpre mandato de deputado pela agremiação criada pelo presidente, a República em Marcha. No discurso em que se lançou candidato a prefeito de Barcelona, nesta terça, ele disse que renunciará ao cargo no Parlamento francês na próxima semana e recorreu a um “pan-europeísmo” difuso para tentar um verniz de coerência a sua guinada política.

“Amo a França, o país que permitiu a um filho de Barcelona […] ser prefeito, deputado, ministro e primeiro-ministro, graças à escola pública e ao meu engajamento político”, afirmou. “Mas vir a Barcelona não representa uma ruptura. É o prolongamento de um caminho, o caminho da Europa.”  

Radicalmente oposto à independência catalã, Valls tem o apoio do partido Cidadãos, de centro-direita, mas concorrerá como candidato independente, sob uma plataforma que promete “resgatar a Catalunha da deterioração”, nas palavras dele. Combater a criminalidade e a desigualdade são seus focos.

Para tentar se blindar das críticas dos adversários na disputa catalã, que o acusam de oportunismo e traição aos eleitores franceses, Valls contratou os serviços do consultor Xavier Roig, chefe de gabinete do ex-alcaide barceloneta Pascual Maragall, que comandou a cidade de 1982 a 1997, intervalo que incluiu a realização bem-sucedida da Olimpíada de Verão de 1992, vitrine de uma cidade moderna e cosmopolita que impulsionou o turismo.

Esse “boom” de visitantes, para muitos na raiz da alta dos índices de violência e da explosão do preço dos alugueis imobiliários na capital catalã, é justamente um dos alvos do discurso de lei e ordem do ex-primeiro-ministro, bem conhecido dos franceses e agora prestes a ser submetido ao crivo do eleitorado do outro lado da fronteira.

A eleição municipal em Barcelona acontece em maio de 2019.