SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na berlinda desde que gravações entre o empresário Joesley Batista e advogados e executivos da J&F apresentaram indícios de que estaria atuando como agente duplo a favor dos réus enquanto ainda trabalhava como assessor do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Marcello Miller divulgou nota à imprensa nesta quarta-feira (6) em que classifica o conteúdo dos áudios como “fantasioso”.
Devido a essas gravações, Janot anunciou que vai rever o acordo de delação com a JBS.
Em uma nota com nove itens, Miller diz que “não recebeu dinheiro ou vantagem pessoal da J&F ou de qualquer outra empresa”; que “nunca atuou como intermediário entre o grupo J&F e o procurador-geral da República”; que “não mantém relações pessoais e jamais foi ‘braço direito’ do procurador-geral”; e que “desde julho de 2016, estava afastado do grupo de trabalho da Lava Jato e das atividades da PGR, atuando efetivamente na Procuradoria da República no Estado do Rio de Janeiro”.
“Tais áudios também contêm indícios, segundo esses dois colaboradores, de conduta em tese criminosa atribuída ao ex-procurador Marcello Miller, que ao longo de três anos foi auxiliar do gabinete do procurador-geral”, disse Janot.
Pelo diálogo entre os colaboradores Joesley Batista e Ricardo Saud, Janot suspeita que Miller tenha ajudado a JBS a confeccionar uma proposta de acordo de delação.
Na gravação, Saud diz que já estaria “ajeitando” a situação do grupo J&F com Miller e que o então procurador estaria “afinado” com eles.
“Como que o Marcello está tão afinado com a gente, o cara mandou escrever tudo hoje [anexos da delação], acabou, quarta-feira nós vamos entregar tudo cem por cento.”
Em nota, Batista e Saud pediram desculpas pelo conteúdo dos áudios gravados e entregues à Procuradoria-Geral da República.
“O que nós falamos não é verdade, pedimos as mais sinceras desculpas por este ato desrespeitoso e vergonhoso e reiteramos o nosso mais profundo respeito aos Ministros e Ministras do Supremo Tribunal Federal, ao Procurador-Geral da República e a todos os membros do Ministério Público”, diz o texto.
Miller atuou até 2016 no grupo de procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato montada pela PGR e era considerado um dos homens de confiança de Janot. Ele teve a portaria de exoneração assinada em 5 de março, com efeitos legais a partir de 5 de abril, quando foi publicada. Depois de deixar o Ministério Público, Miller se integrou a um escritório de advocacia que era contratado pelo grupo da JBS.
Na conversa, Saud também diz que foi orientado por Miller a não entregar às autoridades uma gravação que teria feito com o ex-ministro da Justiça e advogado José Eduardo Cardozo (PT-SP).
Saud contou ao seu chefe que Miller ficou muito contrariado ao saber que ambos haviam gravado uma conversa com Cardozo na qual o ex-ministro teria feito comentário sobre a suposta vida pessoal de um ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).
“Aí não pode botar lá, isso aí não pode. Nós temos que tirar. Tem que usar isso contra o Zé Eduardo. Bora pressionar o Zé Eduardo, tem que contar quem é esse cara do Supremo”, disse Saud, reproduzindo palavras que teria ouvido de Miller. Não fica claro quem seria “o cara do Supremo”, mas pelo contexto do diálogo se trataria de alguém com o qual Cardozo mantinha contato.