SÃO PAULO, SP, E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Um relatório produzido pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) em desdobramento da Operação Lava Jato no Rio indica movimentação financeira atípica de um ex-assessor do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL), que é filho de Jair Bolsonaro e senador eleito. A informação foi revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo.

O ex-assessor parlamentar e policial militar da reserva Fabrício José Carlos de Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, de acordo com o órgão.

O jornal afirma que uma das transações de Queiroz citadas no relatório do Coaf é um cheque de R$ 24 mil destinado à futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

"Dentre eles constam como favorecidos a ex-secretária parlamentar e atual esposa de pessoa com foro por prerrogativa de função –Michelle de Paula Firmo Bolsonaro, no valor de R$ 24 mil", diz o documento citado na reportagem.

Após a revelação da existência do relatório, o Ministério Público Federal, responsável pela investigação, divulgou nota afirmando que a documentação anexada a essa etapa da Lava Jato, batizada de Furna da Onça, inclui um levantamento do Coaf sobre movimentações atípicas de profissionais da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).

"Esse material foi espontaneamente difundido pelo Coaf, como consequência do processo de compartilhamento de informações entre os órgãos de investigação", afirmaram os procuradores.

A Furna da Onça foi deflagrada há um mês e prendeu sete deputados, além de expedir novos mandados de prisão a outros três que já estavam detidos. Eles são suspeitos de receber mesada para apoiar o ex-governador Sérgio Cabral, condenado por corrupção.

Flávio Bolsonaro não estava entre os alvos da operação.

O policial militar atuava como segurança e motorista. Segundo a Alerj, esteve lotado em seu gabinete de 2007 a 15 de outubro de 2018. De acordo com o senador eleito, Queiroz foi exonerado para tratar de sua passagem para a inatividade. Ele entrou na Polícia Militar em 1987 e obteve reserva remunerada neste ano.

Segundo o Coaf, as movimentações financeiras são "incompatíveis com o patrimônio, a atividade econômica ou ocupação profissional" do ex-assessor. A folha de pagamento de setembro (a mais recente disponibilizada) indica que ele recebia salário líquido de R$ 8.517,86.

O citado chegou a ser homenageado por Flávio e seu irmão Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) na Alerj e na Câmara Municipal carioca.

Em outubro de 2003, quando deputado estadual pelo PP, Flávio apresentou na Assembleia moção de louvor e congratulações a Queiroz.

"Com vários anos de atividade este policial militar desenvolve sua função com dedicação, brilhantismo e galhardia. Presta serviços à sociedade desempenhando com absoluta presteza e excepcional comportamento nas suas atividades", dizia a homenagem.

Três anos depois, a Câmara aprovou requerimento de Carlos, vereador, para conferir a Queiroz a Medalha de Mérito Pedro Ernesto, principal homenagem do estado do Rio.

Em 2011, o policial militar respondeu a um processo disciplinar, pelo qual acabou condenado. Segundo a Alerj, Queiroz recebeu bolsa de reforço escolar em favor da filha Nathalia, declarada como sua dependente. Ela, no entanto, exercia cargo comissionado no gabinete da liderança do PP, então partido de Flávio.

Queiroz devolveu os R$ 16,8 mil que havia recebido. Também foi imputado com pena de repreensão. Felipe Bächtold, Ana Luiza Albuquerque e Nicola Pamplona

OUTRO LADO

O senador eleito Flávio Bolsonaro defendeu, por meio de assessores, seu ex-auxiliar Fabrício José Carlos de Queiroz, citado em relatório sobre movimentações financeiras atípicas.

"Fabricio de Queiroz trabalha há mais de dez anos como segurança e motorista do deputado Flávio Bolsonaro, com quem construiu uma relação de amizade e confiança. O deputado não possui informação de qualquer fato que desabone sua conduta. No dia 16 de outubro de 2018, a pedido, ele foi exonerado do gabinete para tratar de sua passagem para a inatividade."

Procurado nas redes sociais, Fabrício não havia retornado o contato até a conclusão desta edição. O chefe de gabinete de Flávio disse à reportagem que não tem o número de telefone do ex-assessor desde sua exoneração.