Arquivo pessoal – Desapego de quase 50 CDs e a história de cada um deles

Demorei quase uma semana para fazer o exercício do desapego. Não tive muitas dúvidas sobre o que seria carinhosamente “descartado”: a velha coleção de CDs, cada qual com sua história particular sustentada.

Não havia conseguido me desfazer deles na última mudança, há quase dois anos, ocasião em que era uma super oportunidade – então entendi que agora é o momento. Dos quase 50 que eu tinha mantido na coleção, fiquei apenas com 15; quatro deles na verdade são DVDs das ecografias da filha. Os CDs já têm destino certo: a casa da Léa. 

Não foi o fato de me desapegar deles em si, porque considero que até certo ponto tenho facilidade em cortar laços, especialmente os materiais, mas o percebido aqui foi a procrastinação em fazer algo ”comum”. Foi como apagar memórias de forma consciente, inclusive assunto que falei intensamente nas semanas que antecederam esse ritual. E disso, o nascimento de um vazio, como se fosse necessário preencher essas lacunas, a fim de dar sentido aos momentos vividos em cada aquisição dos CDs.

Todo esse quadro me fez refletir qual o sentimento presente, no dilema dos próximos passos, o quanto nos apegamos seja no resultado, no efeito de algo e talvez queiramos prolongar essa sensação, pois nos conforta, dá segurança e até estabilidade. Abdicar dessa âncora pode tirar o status que deu certo, do registro daquele momento vivido com sua vitória particular.

O que nos iludimos é sobre o resultado do futuro, criando a partir de escolhas do passado. O risco calculado também é algo incerto, pode ser uma possibilidade, limitada dentro do universo mais do mesmo. Isso porque, geralmente nos apegamos ao que conhecemos e é provável que a próxima aventura “não traga tanto”. Ou não, como diria Caetano.

Fato é que fez muito sentido, pelo menos para mim, que construir o futuro desejado a partir da experiência do passado, não nos traz novas perspectivas. O resultado é o velho conhecido looping, mas aí a escolha é de cada um.

 

*Ronise Vilela é criativa de Comunicação Afetiva e Psicanalista Integrativa. Atende pacientes on-line e presencial com terapia que inclui escuta ativa, respiração consciente, Escrita Afetiva e meditação fácil.

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