Reprodução/ Henrique Bernadelli

Dia 15 de novembro de 1889. O Marechal Deodoro da Fonseca, burlando as recomendações médicas (estava doente, com dispneia), levantou-se às pressas da cama em que havia passado uma madrugada febril para liderar um movimento de tropas do exército. A ideia, inicialmente, era consumar o golpe político-militar que destituiria a monarquia apenas na semana seguinte, no dia 20. Mas uma notícia que dava conta de uma ordem de prisão contra Deodoro e o tenente-coronel Benjamin Constant, líder dos oficiais republicanos, acabou acelerando o processo. Era apenas um boato, mas a República acabou sendo proclamada naquele mesmo dia, na Praça da Aclamação (atual Praça da República), na cidade do Rio de Janeiro, então capital nacional. A partir daquele momento, deixava de existir o Império do Brasil e nascia os Estados Unidos do Brasil.

No Paraná, não demorou para a notícia bombástica chegar. Relata o Dezenove de Dezembro, órgão do Partido Liberal e primeiro jornal paranaense (criado em 1854), que naquele mesmo dia, por volta das 15 horas, começava a circular por Curityba (grafia da época) o boato de que “a côrte estava sendo theatro de grandes acontecimentos, pois constava grande revolta do exercito e armada contra o governo”.

Muitos não acreditaram. Afinal, Dom Pedro II era bem quisto pela maior parte dos brasileiros. Mas não era fake news, como viria a confirmar um telegrama expedido por Quintino Bocaiuva ao Coronel Cardoso Junior, transcrito pelo Dezenove em sua edição de 18 de novembro. No documento lia-se: “Povo, exercito, armada vão installar governo provisorio, que consultará nação. Convocação constituinte. Acclamações geraes republica.”

Para solenizar os acontecimentos, “houve nesta capital grandes festas, que correram sem perturbação da ordem publica”, relata o órgão do Partido Liberal (que logo após a proclamação passaria a se chamar Partido Republicano Federalista, por sugestão de Generoso Marques).

Já A República, órgão do partido republicano, relatava em 21 de novembro que em Campo Largo, onde ficava o jornal, a notícia da proclamação da República foi recebida “com o mais vivo jubilo e delirante enthusiasmo. (…) Os rojões subião ao ar sem cessar e de uma maneira febricitante e o povo saudava como doido essa nova aurora que apontava um horisonte radiante de felicidade para esta nossa grande patria. (…) Foi uma festa nunca vista em Campo Largo.”

O coronel que não queria ser governador do Paraná

Finda a monarquia, Jesuíno Marcondes, presidente da província do Paraná, foi informado sobre uma reunião de militares, na qual passaram um telegrama para a corte aderindo ao movimento republicano. O político, então, mandou chamar o coronel Cardoso Junior para “entregar-lhe a responsabilidade da ordem publica”, conta o Dezenove.

Cardoso Junior, contudo, recusou-se de início a assumir essa responsabilidade. Na noite do mesmo dia, porém, chegou um telegrama do chefe do governo provisório, recomendando ao coronel que mantivesse a ordem pública (ou seja, que assumisse o governo).

No dia 17, então, a Câmara Municipal aclamou Cardoso Junior como primeiro Governador (ainda que provisório) do Estado do Paraná. Um governo que não duraria nem um mês – o coronel deixou o cargo em 4 de dezembro e o Paraná teria, até 1894, outros 11 governadores.

O adeus do monarca: “Essa gente perdeu a cabeça”

Expatriados após o golpe militar liderado por Deodoro, a família Real foi obrigada a deixar o Brasil e rumar para a Europa. Ao Imperador foi concedido o subsídio de 800 contos enquanto a Constituinte não se reunisse, mais 5 mil contos para despesas de viagem. Embora não tenha oferecido grande resistência, Dom Pedro II, obviamente, não gostou nada das notícias que recebeu.

Conta o jornal Gazeta de Notícias, em relato transcrito pelo Dezenove, que o tenente-coronel Mallet (que hoje dá nome a um município paranaense) procurava convencer “o velho imperador” a embarcar. O monarca, porém, recusava ir embora na calada da noite. “Retirar-me-hei do Brazil, porem de dia”, teria dito.

O Barão de Jaceguay, então, interveio, explicando que se o monarca fosse embora durante o dia, poderiam ocorrer manifestações. “E são muito naturaes, porque o povo gosta de mim”, comentou D. Pedro II.

“De certo; mas ao governo incumbiria o dever de reprimi-las. Vossa majestade embarcaria do mesmo modo; correria sangue; poderia morrer alguém da família impedial”, rebateu o barão.

D. Pedro II, então, deu-se por vencido. “O senhor convenceu-me”, teria dito o já ex-imperador. “Reinei cinquenta anos e consumi-os em carregar maus governos. Já estou cansado. Tudo isto foi uma surpresa para mim. Não sabia de nada. Vou embarcar de noite, como se fugisse. Tudo isso porque essa gente perdeu a cabeça. Só eu conservo boa a minha cabeça branca. E quero que saiba disto que estou lhe dizendo.”