SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em nota no início da noite, o secretário paulista Mágino Alves Barbosa Filho (Segurança Pública) reagiu à afirmação da delegada da Polícia Civil de São Paulo dada nesta quinta-feira (9) segundo a qual o Estado vive um período “muito complicado” para a segurança pública e que até mesmo a Rota, a tropa de elite da PM, não tem conseguido entrar em favelas da capital paulista.
Pela manhã, em evento, a diretora do Departamento de Homicídios da Polícia Civil de São Paulo, delegada Elisabete Sato, citou diretamente a comunidade de Paraisópolis, na zona sul da cidade e com 43 mil habitantes. Essa é uma das maiores favelas de São Paulo e um dos principais redutos da facção criminosa PCC na capital. É de lá que Francisco Antônio Cesário da Silva, o Piauí, ordenou em 2012 a morte de PMs em São Paulo e que, no mesmo ano, levou a PM a ocupar a comunidade.
Aos presentes Elisabete Sato disse que vivemos um “caos social” que provocou mudanças na população e, em especial, nas favelas paulistanas. Disse ainda que não será a polícia sozinha que conseguirá resolver um problema social dessa magnitude -que passa por todo o sistema da Justiça criminal, incluindo “legislações arcaicas”.
“A realidade mudou. As favelas, as comunidades mudaram. Nas últimas semanas tivemos o duplo homicídio das meninas [de três anos] e para entrar lá naquela favela do Jardim Lapena [zona leste], entramos porque foi homicídio. É muito complicado. A gente precisa muito pensar nessas coisas”, disse ela, em referência ao estupro e assassinato de Beatriz Moreira dos Santos e Adrielly Mel Severo Porto.
A delegada continuou. “Eu converso muito com nossos investigadores. E nossos investigadores me falaram na semana passada: ‘Diretora, está difícil entrar em Paraisópolis […] Nem a PM nem a Rota estão entrando lá'”, disse.
À noite, o secretário da gestão Geraldo Alckmin (PSDB) e os chefes da Polícia Civil e da PM reagiram. “A afirmação de que as polícias de São Paulo têm dificuldade em cumprir seu trabalho, seja em comunidades ou em qualquer outro lugar, é o mais completo absurdo.” Ele cita operações e prisões recentes na favela de Paraisópolis.
Também em nota, o comandante interino da PM, coronel Mauro Ricciarelli, e o delegado-geral da Polícia Civil, Youssef Abou Chahin, foram na mesma linha do secretário. “Eu posso afirmar com total convicção e segurança que não há nenhum território proibido para a Polícia Militar. Em todo bairro, comunidade ou região dos 645 municípios, a Polícia Militar exerce suas atividades em sua plenitude. Não há áreas controladas por criminosos”, disse o coronel da PM.
TERRITÓRIOS
Essa foi a primeira vez que um integrante da cúpula da Segurança Pública do governo Alckmin admite haver territórios controlados pelo crime, como ocorre no Rio de Janeiro. Alckmin é pré-candidato à Presidência da República. A delegada, uma das mais respeitadas da polícia e com 40 anos de carreira, falou sobre homicídios e latrocínios durante evento do MPD (Ministério Público Democrático) em São Paulo. Também participaram do encontro promotores, jornalistas e o comandante da Polícia Militar na região central da cidade.
Presente no mesmo evento e indagado sobre o assunto, o coronel da PM Francisco Alves Cangerana Neto negou haver áreas controladas por criminosos. “É óbvio que tem local que tem o risco muito grande, por isso é preciso ter o ferramental adequado, as táticas adequadas para entrar. Mas afirmamos aqui que entramos em qualquer local em São Paulo.”
As declarações levaram parte do público presente ao evento a questionar se há o risco de São Paulo “tornar-se “um Rio de Janeiro”, com uma série de áreas controladas por criminosos armados. “São Paulo não vai virar um Rio”, disse o coronel. “Já respondi essa pergunta 26 anos atrás. E volto a responder de novo: Não vai acontecer em São Paulo”, afirmou ele.
O presidente do Conseg (Conselho de Segurança) do Portal do Morumbi, Celso Cavallini, disse que Sato tem razão. Disse que há determinados momentos e circunstâncias nos quais os carros da polícia, tanto Civil quanto Militar, não entram na região. “Esses dias atiraram numa viatura da Rota que estava perseguindo uma moto roubada.”