TATIANA VAZ

TAUBATÉ, SP (FOLHAPRESS) – Ainda é cedo para que as montadoras tenham opinião sobre o avanço das negociações do Ministério da Fazenda com o Mdic (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços) para definição do Rota 2030, avalia Rogelio Golfarb, vice-presidente de assuntos corporativos da Ford América do Sul.

“O mais importante para nós é a estabilidade das regras e que elas sejam mantidas por um período”, disse sobre o novo programa de incentivos ao setor automotivo. “Sem estabilidade jurídica, as empresas não conseguem fazer planos [de investimento] de longo prazo”. Rogelio, também é vice-presidente da Anfavea.

O executivo admitiu que a proposta atual, que limita os benefícios tributários previstos para as montadoras, não é tão boa quanto a de créditos, proposta pelo Mdic. “Ainda há necessidade de mais negociações”, afirmou.

Ministério da Fazenda e Mdic discordam sobre como as montadoras poderiam usar os créditos tributários, fruto de investimentos feitos em pesquisas no país. De um lado, a Fazenda defende que as empresas poderão utilizá-los só no pagamento de IRPJ (Imposto de Renda da Pessoa Jurídica) e CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido). Já o Mdic, apoiado pelas montadoras, defende que os benefícios possam ser usados em qualquer imposto.

Para Golfarb, ainda que a regra escolhida for a proposta pelo ministério, a expectativa de crescimento do mercado de 10% a 15% para 2018 não deve ser afetada. “Mas os investimentos feitos pelas companhias no país serão, o que pode refletir no mercado consumidor mais para frente.”

Na manhã desta quarta (25), a companhia anunciou que a fábrica de Taubaté, no interior paulista, deu início a produção de um motor e um câmbio, antes importados da Índia. A inauguração marcou o aniversário de 50 anos da unidade. O motor 1.5 Ti-VCT e o câmbio de transmissão MX65, antes importados apenas para o EcoSport, passam a integrar também o Ford Ka FreeStyle.

O investimento não foi revelado e não haverá novas contratações. Mas a fábrica, que emprega 1.300 funcionários diretos e outros 1.000 indiretos, volta a produzir em três turnos, como antes de 2015.

“A preocupação é que a companhia invista em tecnologia, sem deixar de lado as pessoas, porque elas não podem encarar as máquinas como adversárias”, disse Milsson Pereira, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté e Região. “É bom lembrar que máquinas não fazem a economia girar, nem compram carros”.

Com os investimentos recebidos pela Ford com a chegada do motor, a unidade fabril tem hoje 49 robôs operando, em atividades que reduzem custos e garantem maior segurança pro ambiente de trabalho, na avaliação da companhia. “Por exemplo, não temos mais empilhadeiras pela fábrica a partir de hoje.”

De acordo com ele, os funcionários foram treinados nos últimos dois anos para receber novas funções após as remodelações, por isso não houve demissões.

O modelo Ka FreeStytle com o motor que garante menos uso de combustível e terá câmbio manual e automático será exportado do Brasil para países da América do Sul ainda neste ano.

“Mas é preciso lembrar que o Brasil está exportando mais porque o mercado argentino está comprando bastante”, disse o executivo.

“Em números absolutos de exportação, o crescimento das vendas a partir do Brasil é de 17%, mas o Brasil já chegou a exportar 45% de sua produção. A grande maioria do que exportamos hoje [o setor] vai para a Argentina.”