SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Passados sete meses de uma enchente que matou uma menina, cerca de 70 famílias continuam morando em barracos às margens do córrego Água Branca, na favela do Sapo, na Água Branca, na zona oeste de São Paulo.

Em 20 de março, o córrego subiu mais de dois metros durante um temporal, arrastando uma casa com quatro mulheres e causando a morte de Sofia Soares, na época com 1 ano e 8 meses.

A menina e a mãe, Paloma dos Reis, 11 anos, estavam no barraco onde moravam com a tia da garota, Pamela, 23 anos, e a avó da menina, Karen Soares, 40 anos, quando a enxurrada levou a casa. As três se salvaram, mas Sofia foi arrastada por mais de 50 metros e morreu afogada. Paloma deixou o local após a morte da filha.

Desde então, os moradores da favela passaram por um incêndio e dizem que a prefeitura não fez nenhuma limpeza no córrego, que, segundo eles, ainda acumula lixo e destroços arrastados na enchente de março. “Aquele esqueleto era um barraco que também foi arrastado, o resto está no córrego”, disse Pamela ontem, apontando para a lâmina de água entre o corredor de palafitas.

LIMÃO

No Limão, na zona norte, a aposentada Vitória Leão, 85 anos, morreu afogada no mesmo dia da morte de Sofia, após ter a casa invadida pelas águas do córrego do Mandaqui. Atualmente, o imóvel, que teve o muro e paredes derrubados, está abandonado, pois as filhas da idosa deixaram o local.

Vizinhos reclamam do risco de novas inundações. Nesta sexta (19), a dona de casa Vera Lúcia dos Santos, 64 anos, instalava uma comporta no imóvel onde mora há 30 anos. “Estamos preocupados. As chuvas estão começando e vai haver mais inundações”, afirmou.

Segundo lideranças dos familiares, no final de setembro a Subprefeitura da Lapa, da gestão Bruno Covas (PSDB), afirmou que a partir de 4 de novembro os imóveis montados às margens do riacho serão removidos.

“Não moramos aqui por luxo, mas não sairemos daqui para albergues, pois isso divide as famílias”, defende Hemelin Alcântara, 28 anos, líder dos ameaçados. Segundo ela, o aviso foi dado de modo informal, sem notificação judicial e oferta de auxílio por parte da prefeitura.

Cerca de 70 famílias moram em barracos de madeira e palafitas nas margens do córrego Água Branca. No dia 25 de setembro, eles foram identificados com um cadastro numérico pela Secretaria Municipal da Habitação.

Uma dessas famílias é a da autônoma Natália Lima Luis, 26 anos, que há seis dias deu à luz Micael. “Tenho medo dessa situação, porque realmente não temos para onde ir, e não sabemos o que fazer”, diz, ao lado do marido Rodrigo Silva, 24 anos.

OUTRO LADO

A Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), diz que a Justiça determinou a remoção dos barracos localizados na área ocupada.

“Um plano de ação, que inclui negociação para a saída consensual das famílias, está em curso. O local representa risco à vida, principalmente em períodos de chuva. Após a retirada dos barracos, a Prefeitura fará a limpeza do leito do córrego”, diz a nota enviada pela administração.

Também informa que o “município identificou 161 famílias na área ocupada no Córrego Água Branca e esclareceu sobre o risco iminente de desmoronamento, uma vez que o local é considerado risco máximo (R4)”.

“A prefeitura já removeu e atendeu 450 famílias na área em 2011. O local foi reocupado, mesmo após o alerta do risco pela equipe social.”

Sobre o córrego Tabatinguera, a gestão afirma que “ele é limpo todos os meses pelas equipes da Subprefeitura Casa Verde/Cachoeirinha. As ações são preventivas e emergenciais.”